A Justiça Federal decretou em caráter liminar o bloqueio de R$ 14,12 milhões do empresário Marcos Valério e de outros 11 acusados - entre eles três delegados da Polícia Federal e quatro advogados. Condenado a 40 anos de prisão no julgamento do mensalão, Valério responderá agora por improbidade administrativa sob acusação de coordenar em 2008 um esquema de espionagem, fraude e ameaças contra dois fiscais de rendas do Estado de São Paulo que pretendiam aplicar multa de R$ 95 milhões à cervejaria de um amigo dele, Walter Faria.
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Denunciado por Marcos Valério, investigação contra Lula deve ser rápida em MinasMarcos Valério é novamente condenado por sonegar mais de R$ 5 milhões"Nada deixará de ser apurado", diz Gurgel sobre depoimento de Marcos ValérioPolícia Federal convoca Marcos Valério para novo depoimentoMP abre seis investigações após denúncias de Valério contra Lula Depoimento de Valério sobre Lula é enviado a BrasíliaComissão rejeita requerimento que convocaria ValérioA ação de improbidade é um desdobramento do processo criminal da Avalanche. O procurador destaca a “capacidade de comando” de Valério e requereu a decretação de indisponibilidade de bens dele e dos outros, de maneira solidária, naquele montante. O cálculo para os R$ 14,12 milhões foi feito a partir do que seria pago aos federais pelo inquérito forjado, R$ 3 milhões, acrescido do valor referente ao enriquecimento ilícito e multa.
Andrey Mendonça anexou cerca de mil páginas de provas documentais. Requereu afastamento do cargo de dois delegados da PF que estão na ativa - Antonio Hadano e Silvio Salazar - medida rejeitada pela juíza -, e cassação da aposentadoria de um delegado.
A juíza Anita Villani observou. “Há robustos elementos a indicar a prática de atos de improbidade administrativa pelos réus que, mediante contraprestação de vultosa quantia, atuaram em desrespeito aos deveres da função (para os servidores), ou induziram e concorreram para tal conduta (para os demais réus, não servidores), prejudicando pessoas inocentes com a instauração de inquérito policial sabidamente forjado.”
Para a juíza, “as transcrições dos áudios demonstram a participação dos réus e seu conhecimento acerca dos fatos, demonstram que receberam valores elevados para praticarem os atos de improbidade”. O procurador relata que Valério e o advogado Rogério Tolentino, também condenado no mensalão, “arquitetaram esquema de desmoralização e difamação” dos fiscais Antonio Carlos de Moura Campos e Eduardo Fridman que lavraram autuação da Cervejaria Petrópolis. Segundo a PF, Valério e Faria cooptaram os delegados e outros policiais, a quem iriam pagar R$ 3 milhões pelo falso inquérito contra os fiscais.
A Inteligência da PF grampeou ligação de 5 de junho de 2008 entre dois advogados. Um deles diz. “Ele (Valério) quer dinheiro né?” Chamam Valério de “coordenador” do golpe. Em escuta de 2 de julho Ildeu Pereira, advogado, pergunta a Valério sobre o andamento das negociações. “Correu tudo bem aí, né?”. O condenado do mensalão responde. “Eu não sou o anjo do mau agouro meu amigo.”
Quando distribui ordens a um interlocutor, Valério é taxativo. “Vai precisar de uma atuação firme sua e dos seus advogados.” Tais medidas, segundo anotações apreendidas com Ildeu, compreenderiam a quebra do sigilo dos familiares dos fiscais. “Esse diálogo demonstra a capacidade de comando de Marcos Valério”, alerta o procurador Andrey Mendonça ao transcrever conversa do operador do mensalão, captada em 6 de agosto, às 15h38.
Defesa
O advogado Marcelo Leonado, que defende Marcos Valério, disse que considera “fruto de uma criatividade intensa” a ação de improbidade. “A ação penal não trata de nenhum desvio ou utilização de recursos públicos de quem quer que seja. Não sei como numa ação civil vai se cobrar o dinheiro. O Estado vai enriquecer ilicitamente, vai ganhar dinheiro que nunca foi dele? É muito curioso porque isso não envolveu recursos financeiro de ninguém, muito menos do Estado. Não pode ter improbidade.”
Os delegados da PF Silvio Salazar e Antonio Hadano não foram localizados, assim como o advogado Rogério Tolentino.
A Cervejaria Petrópolis S/A, cujo diretor presidente é Walter Faria, informou que não foi multada em cerca de R$ 100 milhões. Segundo a empresa, foram duas autuações que não chegaram a R$ 7 5 milhões. A Petrópolis apresentou impugnação e recurso ordinário ao Tribunal de Impostos e Taxas da Secretaria da Fazenda, “que cancelou os dois autos de infração”.