Jornal Estado de Minas

Ponte construída há sete anos no Vale do Jequitinhonha até hoje não foi concluída

Paulo Henrique Lobato
Enviado especial

 

Estrutura da ponte na BR-367, rodovia idealizada por JK. Na foto menor, uma das passagens de madeira que são usadas pelos motoristas - Foto: Marcos Michelin/EM A PressMinas Novas, Berilo e Chapada do Norte – Nem o Vale do Jequitinhonha, região mais carente do estado e uma das mais pobres do país, escapa de servir de cenário para imensos monumentos ao desperdício. Há sete anos, a imponente ponte de 150 metros sobre o Rio Fanado, que corta as montanhas da cidade histórica de Minas Novas, foi erguida, ao custo de R$ 3 milhões, e ainda não tem serventia alguma: a estrutura aguarda a obra de encabeçamento na BR-367, outro exemplo de obra inacabada.

A rodovia liga Diamantina a Porto Seguro (BA) e foi projetada no governo Juscelino Kubitschek (1902-1976), para ajudar no desenvolvimento do Jequitinhonha e – ao mesmo tempo – encurtar o caminho da região ao litoral. Mais de 50 anos depois de o presidente bossa-nova ter governado o país, de 1956 a 1961, a estrada continua com dois longos trechos de terra, de Minas Novas a Virgem da Lapa (60 quilômetros) e de Almenara a Salto da Divisa (60 quilômetros). Por ironia, além de abrigar uma ponte de cimento inacabada, a 367 conta também com cinco estreitas pontes de madeira – as passagens não têm proteção lateral e já foram palcos de acidentes.

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“A situação da ponte de cimento, que custou R$ 3 milhões, é um desrespeito com a gente. Como ela não está pronta, caminhões pesados passam pela cidade, abalando a estrutura de prédios centenários. No fim de janeiro, no encontro de prefeitos com a presidente Dilma Rousseff, estivemos em Brasília e representantes do governo federal nos prometeram fazer o encabeçamento”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Minas Novas, Américo de Fátima Alves Júnior. A situação da ponte e a da estrada chamaram atenção até da presidente da República. Em 2010, durante a campanha eleitoral, a então candidata do PT esteve na região e prometeu terminar o projeto idealizado por JK.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que as obras devem começar ainda este ano, mas não há previsão exata para a inauguração da ponte e da pavimentação dos dois trechos (Minas Novas/Virgem da Lapa e Almenara/Salto da Divisa). A ponte de cimento foi construída pelo governo do estado. Mas a obra de encabeçamento precisa ser feita pela União, responsável também pela pavimentação dos trechos de terra. Enquanto isso, moradores de cidades cortadas pelo caminho de terra lamentam o sofrimento. Na época de chuva, a lama impede consumidores de irem às compras em cidades vizinhas. No calor, a vilã é a poeira: o pó levantado por caminhões e carros atrapalha a visão de motoristas.

Em qualquer dia, com barro ou terra seca, os buracos e as lombadas interferem no custo do frete, encarecendo o preço final dos produtos. “De Berilo a Araçuaí, passando por Virgem da Lapa, há 30 quilômetros de terra. As pessoas preferem dar uma volta de mais de 70 quilômetros para usar o trecho de asfalto. Em razão disso, o movimento em meu comércio está fraco. Custa a parar um carro. Só continuo aqui porque crio gado. Do contrário, teria saído. O asfalto precisa chegar com urgência à BR-367”, reivindica César Alves Soares, dono de uma pequena mercearia às margens da antiga rodovia, no trecho entre Berilo e Virgem da Lapa.

César não esconde a emoção ao falar da rodovia planejada por JK: “A ponte que havia sobre o Córrego Barbosa, a cerca de 200 metros do meu comércio, foi levada pela chuva em 2004. Até hoje outra não foi erguida”. A sorte dos usuários da rodovia é que, durante boa parte do ano, devido ao clima semiárido da região, o leito do córrego fica seco. “No período de chuva, porém, a água corre no local”.

O comerciante não é o único a clamar por asfalto na 367. Dona Rosângela Lourenço, que herdou uma mercearia do pai, no município histórico de Chapada do Norte, também lamenta a falta de investimentos no trecho. “Quando a água vem e forma muita lama, muitos de meus clientes, que moram na cidade vizinha de Berilo, não vêm para essas bandas, pois o ônibus que percorre o trajeto suspende a viagem”.