Paulo de Tarso Lyra, Karla Correia e Ivan Iunes
A eleição presidencial de 2014 começou na semana que passou, com eventos midiáticos, como a festa do PT em São Paulo, o discurso de Aécio Neves (PSDB-MG) no Senado, o encontro do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), com prefeitos, e o lançamento do novo partido de Marina Silva, o Rede Sustentabilidade, em Brasília. Mas disputas desse porte são decididas nos bastidores, com a definição das alianças políticas — que trarão tempo de tevê para os candidatos — e na montagem de palanques estaduais fortes para os presidenciáveis visitarem, fatores que só serão definidos no ano que vem.
No momento, a presidente Dilma Rousseff beneficia-se de uma ampla coligação, com 14 partidos no Congresso. Mas a negociação terá que ser pontual. Até o momento, apenas o PMDB está na chapa, indicando o vice-presidente Michel Temer. Reunidos, PT e PMDB somam 170 deputados, o que garante pouco mais de seis minutos e meio de tempo de tevê, de acordo com a legislação eleitoral.
Para além das parcerias já conhecidas, existe uma massa de 17 partidos que ainda definirão seus rumos. Juntos, eles têm a oferecer os nada desprezíveis oito minutos e 53 segundos. Boa parte deles já está com Dilma e deve continuar — é o caso do PCdoB, que está ao lado do PT desde a eleição presidencial de 1989.
Flerte Quatro partidos que flertam atualmente com o Planalto podem, no entanto, desequilibrar essas forças: PSD, PR, PDT e PP. Coincidência ou não, as três primeiras legendas intensificaram, nas últimas semanas, conversas com Dilma e devem ser contempladas com ministérios ou um tratamento diferenciado na Esplanada. “O PSD, com certeza, marchará com Dilma em 2014. Mas o partido ainda está dividido sobre a vantagem de ter ou não um ministério neste momento”, afirmou o secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz. Em conversas anteriores, ele já havia dito que a candidatura Dilma unifica a legenda, diferentemente do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta forte resistência no setor do partido ligado ao agronegócio, que tem como principal expoente a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). Em conversas internas da legenda, a parlamentar — que tem uma ótima relação com a presidente Dilma — também tem dúvidas se é o momento de o PSD assumir um ministério.
O PR vive uma situação diferente. O partido está ao lado do PT desde 2003. Em 2011, o senador Alfredo Nascimento (AM) foi exonerado do Ministério dos Transportes sob acusações de superfaturamento em obras da pasta. Há duas semanas, Dilma chamou o próprio Nascimento e o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), para avisar que gostaria de contar com a legenda em 2014. “Mas a senhora será candidata? Tem gente no PT que acha que o candidato será o Lula”, indagou Garotinho. “Vamos mudar de assunto, eu serei candidata”, respondeu ela. Na quarta-feira, Lula confirmou que a tarefa do PT é reeleger Dilma.
No PP, o ministro Aguinaldo Ribeiro tem prestígio no governo, mas as relações consanguíneas jogam incertezas sobre que rumo tomar. O presidente da legenda, senador Francisco Dornelles (RJ), é tio do pré-candidato do PSDB Aécio Neves. Em 2010, cogitou-se a possibilidade de ele ser vice do PSDB, caso Aécio fosse candidato. Os tucanos acabaram escolhendo José Serra. “A eleição de 2014 será devidamente tratada em 2014”, sintetizou Dornelles.
O secretário de organização do PT, Paulo Frateschi, lembra que quase todos os partidos aliados estiveram na festa petista. “E acho que estarão juntos conosco ano que vem, até o PSB. Eduardo é muito grande para contentar-se em participar para forçar a realização do segundo turno”, apostou. O secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, faz mistério. “Queremos conversar para fechar parcerias. Mas não podemos adiantar nada para não atrapalhar a estratégia.”
Mesma situação vive o PSDB, que não perde a esperança de que o bom trânsito de Aécio Neves entre os diversos partidos possa atrair legendas com PP, PR e PDT. “Mesmo assim, não temos a ilusão de chegar ao início do ano eleitoral disputando minuto a minuto o tempo de televisão com a presidente Dilma”, declarou o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro (MG).