Ícone das obras abandonadas, a Ferrovia do Aço fincou as raízes do desperdício no trecho entre Nova Lima, Belo Horizonte e Sabará, com túneis e pilares de viadutos construídos na década de 1970 e que nunca foram utilizados. Como a promessa era de que a linha seria concluída em menos de três anos, ela foi apelidada de Ferrovia dos Mil Dias. Ninguém quis ficar com a herança do governo militar. Em dois leilões para vender parte do terreno com as obras inacabadas nenhum comprador fez oferta. O Estado de Minas publica desde ontem reportagens sobre pontes, viadutos e estradas abandonadas que prejudicam os moradores de seu entorno e ilustram o desdém com que o dinheiro público é tratado.
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Remendos e retomadas de obras públicas custam mais caro, aponta economistaPopulação é a única prejudicada com atrasos de obras em MG; responsáveis ficam impunesObras de pontes e viadutos que custaram milhões ficaram no meio do caminho em MGEm Pedro Leopoldo, ponte está "quase" concluída há quatro anosPrefeitura em Minas provoca desperdício de R$ 2,1 milhõesDilma espera resposta do TCU para publicar edital de construção de ferroviaMoradores relembram o conservadorismo das cidades à época de obras da Ferrovia do AçoGoverno goiano gastou R$ 40 milhões em sistema de irrigação que nunca funcionouA Ferrovia do Aço foi uma das obras faraônicas que o governo militar empreendeu na década de 1970. Além dela, o regime construiu outras obras suntuosas, como a Ponte Rio-Niterói, a Rodovia Transamazônica e a usina hidrelétrica de Itaipu. O obra serviria para escoar o minério de Minas para Rio de Janeiro e São Paulo. No entanto, apenas o trecho entre Itabirito e Volta Redonda (RJ) foi construído. O percurso entre Minas e São Paulo não foi iniciado. Entre Itabirito e a capital mineira ficaram os trechos abandonados. Quando a ferrovia foi planejada, o país vivia o período que ficou conhecido como milagre econômico, com a economia crescendo a taxas superiores a 10% ao ano.
O valor de toda a ferrovia é estimado em US$ 1,8 bilhão (R$ 3,5 bilhões). Os pilares dos viadutos inacabados podem ser vistos por quem vai de Belo Horizonte a Sabará seguindo pela Avenida dos Andradas, na Região Leste, antes de chegar ao Bairro General Carneiro.
Anel Leste
Enquanto o governo federal tenta vender parte das obras abandonadas, está com a Prefeitura de Belo Horizonte um projeto para usar os túneis e estruturas na construção de um anel ferroviário, que ligaria a Região Sul de Belo Horizonte à Região Leste, conectando a saída para o Rio de Janeiro da BR-040 com a saída para Vitória na BR-262. O deputado estadual Paulo Lamac (PT), que coordena a Frente Parlamentar de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo, já levou seus colegas deputados para visitar os locais e garante que o projeto está com o poder municipal. O autor do texto é o arquiteto e urbanista Radamés Teixeira.
“O projeto inclui uma grande estação ao lado dos motéis na saída para o Rio. Ali teríamos um grande estacionamento, incentivando aqueles que têm carros a usarem um transporte coletivo rápido e eficiente. Um ramal iria até a Região Leste de BH, utilizando o espólio da Ferrovia do Aço e parte da malha ferroviária abandonada que vai até a região da Mina de Águas Claras. Outro ramal poderia, inclusive, chegar até o Barreiro, já que há toda uma estrutura de trilhos também”, explicou o deputado Paulo Lamac.
Ele não acredita que a venda do terreno possa impedir os planos da construção do Anel Leste, como é chamado o projeto. “Poderia ser interessante para conseguir um parceiro e fazer uma parceria público-privada (PPP)”, explica. O deputado reforça que tão importante quanto os túneis e esqueletos dos viadutos é a preparação do terreno, que está concluída há décadas. Por enquanto, o Anel está só no papel.
Economês/português
Milagre Econômico
O regime militar brasileiro conseguiu sobrevida graças às condições econômicas da época. Entre 1968 e 1973, o Produto Interno Bruto (PIB) crescia cerca de 10% ao ano. Setores como a construção civil e a indústria atingiam índices ainda mais elevados. O milagre começou a ruir em 1974, com a crise mundial do petróleo. Como os militares que comandavam o país abusaram dos empréstimos internacionais para financiar as obras faraônicas, a dívida externa explodiu. Seguiu-se então um período de inflação elevadíssima, que só foi terminar em 1994, no fim do governo Itamar Franco, quando foi instituído o Plano Real. Apesar do crescimento da economia, não houve justiça social, o que aumentou ainda mais a desigualdade da sociedade brasileira.