Depois de ocupar a tribuna do Senado com o discurso de candidato à sucessão do Palácio do Planalto em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB) recebeu ontem a bênção do seu maior cabo eleitoral: o ex-presidente da República e presidente de honra do PSDB nacional, Fernando Henrique Cardoso. O tucano reforçou a escolha do senador como o melhor nome do partido para tentar tirar do Palácio do Planalto o PT – que este ano completou 10 anos no poder. Em evento em Belo Horizonte na noite de ontem, FHC endureceu o discurso de oposição ao chamar a presidente Dilma Rousseff de “ingrata” e dizer que sua administração usurpou o projeto tucano de governo e agora “cospe no prato que comeu”. Ele afirmou ainda os tucanos não “roubaram” enquanto estiveram no poder.
“Neste momento a pessoa que tem mais condições (de disputar a sucessão presidencial) é o Aécio Neves. Não vejo outro nome. É o momento de renovação do falar, do estilo da pessoa. É o momento de sacudir o país”, afirmou o ex-presidente, que veio a Belo Horizonte para proferir a palestra “O século 21: desafios, ameaças e oportunidades”, evento que marcou a abertura do ciclo de debates Minas Pensa o Brasil, promovido pelo PSDB de Minas Gerais. Embora tenha deixado clara sua escolha, FHC ressaltou que a candidatura precisa ser construída discutindo os problemas reais do Brasil e lançada apenas no momento oportuno. E garantiu que vai percorrer o país ao lado de Aécio para “plantar a semente da vitória”.
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“O PT se opunha a tudo. O mundo mudou e o PT foi para o governo para usurpar nossos projetos”, reclamou. Sobre as críticas de que a oposição não tem projeto de governo, FHC disse que a meta dos tucanos é investir em tecnologia, industrialização, desenvolvimento e emprego de boa qualidade para as classes emergentes. “O PSDB tem que entrar nessa linha de futuro”, completou.
Em discurso, o senador Aécio Neves (PSDB) destacou a importância de observar quem são as pessoas que acompanham os líderes do país – em alusão à condenação de vários petistas e aliados do governo no processo do mensalão pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). FHC foi além: “Nós mudamos o rumo do Brasil, nós fizemos muitas coisas, mas não roubamos não”.
Nos próximos meses os debates se estenderão por vários estados. Na semana que vem o mineiro estará novamente ao lado de FHC em evento na capital paulista. “É hora de o PSDB voltar com propostas como criar empregos de mais qualidade e focar na melhoria da educação. Com a privatização, sim, de setores que precisam. É hora de discutir os problemas reais do Brasil. Tenho ao lado o responsável pelas maiores transformações do país”, disse Aécio.
Aprovação
Se os tucanos ainda preferem aguardar uma data mais próxima das eleições para confirmar o nome do senador mineiro, entre os principais representantes do partido que compareceram ao evento, o nome de Aécio deve ser confirmado o quanto antes. Para secretários, prefeitos e deputados do PSDB, a confirmação da candidatura presidencial vai permitir que ele chegue a 2014 com reais chances de vencer as eleições.
Secretário-geral do PSDB mineiro, o deputado estadual Carlos Mosconi afirmou que o partido está presente nas discussões políticas do país como uma opção de futuro. Criticou o clientelismo eleitoral que seria a marca da atual gestão e garantiu a aprovação da candidatura do mineiro em 2014. Integrantes da juventude e do setor feminino da legenda valorizaram a gestão de FHC como responsável pela maioria dos avanços sociais da última década.
Confusão
O fim do encontro realizado ontem pelo PSDB em um hotel no Bairro de Lourdes foi marcado por confusão. Um grupo de jovens ligados à União Nacional dos Estudantes (Une) e à União da Juventude Socialista (UJS) foi para a porta do estabelecimento com cartazes de protesto contra os tucanos. Na saída do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a haver um início de briga, contornada pela turma do “deixa disso”. No momento em que o senador Aécio Neves deixou o evento, novo confronto: um grupo de jovens tucanos chamava os manifestantes de mensaleiros e corruptos, enquanto eles reclamavam do programa de privatizações do governo FHC.