Alessandra Mello
Netos do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul Leonel Brizola disputam com o atual presidente da legenda, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi o comando do PDT, partido criado pelo avô em 1980. A maior dificuldade enfrentada pelos irmãos Brizola Neto, ministro do Trabalho; Leonel Brizola, o vereador carioca, e Juliana Brizola, deputada estadual pelo PDT gaúcho, que lideram a campanha contra Lupi, é o estatuto da legenda, feito sob medida para Brizola, que até morrer, em 2004, controlava o partido com mãos de ferro.
O texto em vigor, aprovado em 1997, confere enormes poderes à Executiva Nacional, totalmente ligada a Lupi. Ela pode aprovar delegados indicados pelos estados e municípios, formar comissões provisórias, regulamentar diretórios e fixar o número de votantes no colégio eleitoral para a convenção nacional.
Os netos de Brizola, contudo, não desistem e tentam conquistar aliados nos diretórios estaduais para destituir Lupi do poder. Ano passado se fortaleceram com a indicação de Brizola Neto, a contragosto de Lupi, para o Ministério do Trabalho. Além disso, contam com a simpatia da presidente Dilma Rousseff. Todos são muito ligados ao ex-marido de Dilma Carlos Araújo, um dos principais conselheiros políticos de Juliana Brizola no Rio Grande do Sul. Tanto Dilma quanto Araújo já foram filiados ao PDT gaúcho, berço do brizolismo. A presidente deixou a legenda e migrou para o PT. Carlos Araújo permanece desligado do PDT, mas pode voltar caso Lupi seja colocado de lado.
“A militância não entende hoje como ele (Lupi) pode usufruir desse estatuto como se fosse o Brizola. Ele não tem respaldo para isso e não é reconhecido como um representante do legado trabalhista”, dispara Juliana Brizola, deputada mais bem votada do Rio Grande do Sul na última eleição e tida como a mais legítima representante do legado do avô, principalmente pelo discurso afiado. “A militância do PDT tem vergonha do Lupi quando ele aparece na televisão falando em nome do PDT”, provoca ela.
A deputada quer que as eleições para o novo comando sejam feitas por meio de eleição direta, nos moldes do modelo adotado pelo PT, onde todos os filiados votam para eleger os delegados que escolhem o comando. “Hoje, o colégio eleitoral é escolhido a dedo por ele”. Juliana também diverge da pretensão de Lupi de lançar candidato próprio à sucessão de Dilma. “Esse debate tem de ser feito pela militância e não de maneira isolada”, opina.
Arena virtual
Leonel Brizola também não poupa críticas ao presidente da legenda, chamado ironicamente por ele de “Charles Lupi”. Em um texto publicado semana passada em seu blog (www. Leonelbrizolaneto.com), ele critica o desejo de Lupi e aliados de lançar candidato à sucessão de Dilma. O nome mais cotado é o do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que disputou o mesmo cargo em 2006. “A cúpula lupista do PDT importou o senador Buarque do PT e o fez candidato sem a espinha dorsal do trabalhismo brizolista. Aventar a possibilidade de tê-lo novamente como candidato a presidente da República pelo PDT é a repetição da tragédia dentro da tragédia”, escreveu ele. No texto, o vereador insinua também a possibilidade de o PDT bandear para o ninho tucano em 2014. “A suspeita de que a patota lupista quer atracar na barca tucana não é descartável, tendo em vista a afronta desses arrivistas contra a memória de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro”, ataca, citando outro pedetista histórico, o escritor e senador pelo PDT do Rio de Janeiro Darcy Ribeiro, falecido em 1997.
Na semana passada, Brizola Neto enviou à direção nacional uma carta solicitando a definição por parte de Lupi das regras para a eleição, inclusive a data, e também pediu transparência. A convenção para a escolha do novo comando está prevista para este mês, sem dia definido. Brizola Neto pode ser o candidato dos irmãos. O ex-governador gaúcho Alceu Collares pode disputar contra Lupi, com apoio deles como candidato da unidade.
Diretório mineiro fechado com Lupi
Aliado de primeira hora de Lupi, o presidente do PDT mineiro, Mário Heringer, critica a tentativa dos herdeiros de Brizola de tirar Lupi do poder e mudar o estatuto, tachada por ele de oportunista. Ele admite que as regras do partido dão muito poder ao presidente, mas destaca que ninguém reclamava quando Brizola era presidente. “O estatuto do partido era muito bom quando o avô deles estava no comando. Agora, como já não atende mais o interesse da família, eles querem mudar. Isso é democrático?”, questiona. Segundo ele, o PDT mineiro está fechado com Lupi e aposta sua permanência no comando do partido. Como exemplo da pouca força da família Brizola ele cita a tentativa fracassada de Brizola Neto de emplacar um aliado, o deputado João Dado (PDT-SP), na liderança do partido na Câmara dos Deputados. O escolhido foi o deputado André Figueiredo (PDT-CE), do grupo de Lupi.