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Estado de Minas

Lula e FHC mantêm 15 anos de tiroteio verbal vuisando a disputa do poder

O último embate direto entre Lula e FHC foi em 1998, mas desde então os ex-presidentes mantêm duelos sobre diversos temas. Com a eleição no horizonte, eles intensificam as críticas mútuas


postado em 04/03/2013 06:00 / atualizado em 04/03/2013 09:36

Karla Correia

Brasília – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o seminário do PT em Fortaleza, na última quinta-feira, para fazer uma espécie de mea-culpa do partido em relação ao mensalão. "Somos seres humanos, alguns de nós podem cometer erros, é verdade. E quem cometer tem que ser julgado, como todo mundo. Errou tem que ser punido", disse Lula, muito à vontade diante de uma amigável plateia de petistas comemorando os 33 anos do partido, 10 deles à frente do governo federal.

Também houve estocadas na oposição. "Não vamos permitir que ninguém jogue em cima de nós a pecha que eles carregaram a vida inteira do jeito de fazer política", trovejou o ex-presidente Lula. Na mira de seu discurso estava seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem tem travado uma batalha verbal. A 20 meses do pleito de 2014, as discussões públicas já dão o tom do que será o embate em torno da sucessão presidencial, no próximo ano.

A antecipação da disputa presidencial trouxe Lula e Fernando Henrique de volta como protagonistas na arena política 15 anos depois da última vez que se enfrentaram diretamente nos palanques, nas eleições de 1998. Eleito em 2002, Lula ganhou musculatura política e se tornou o maior cabo eleitoral do PT na última década. Vitorioso em 1998, Fernando Henrique seguiu caminho inverso e passou a ser escondido por seu partido, o PSDB, nas campanhas presidenciais seguintes. Nunca perdeu, contudo, o papel de articulador político dentro da legenda. "Esconder FHC foi um erro estratégico que custou muito caro ao PSDB e, agora, o partido está concentrado em recuperar esse legado de oito anos de governo tucano sob o comando dele", diz um cacique tucano próximo a Fernando Henrique.

É em busca dessa "herança bendita" que FHC tem se lançado em viagens pelo país. Em Belo Horizonte, durante evento do PSDB mineiro, Fernando Henrique rebateu uma recente afirmação de Dilma, de que o governo petista não herdou nada da gestão tucana. "O que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato em que comeu", disparou FHC, para logo depois acusar o PT de "usurpar" o projeto tucano de governo. "Quem não tem projeto é quem está no governo, porque eles pegaram o nosso. Agora mesmo estão discutindo a privatização da distribuidora de energia elétrica. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpação de projeto", afirmou.

Padrinho da provável candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG) ao Palácio do Planalto, Fernando Henrique tem organizado encontros do senador com economistas para formular o embrião de um programa de governo tucano para 2014. Edmar Bacha, um dos "pais" do Plano Real, é frequente nessas reuniões, assim como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Os esboços do programa e as falas públicas de FHC têm se concentrado meticulosamente em pontos considerados fracos da atual gestão – segurança pública, qualidade dos serviços de saúde pública, os gargalos na infraestrutura e o fraco crescimento da economia serão alvo do ex-presidente em evento do PSDB nesta semana, em Goiânia. No próximo dia 12, o tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas deve lançar um livro passando um pente-fino na saúde financeira da Petrobras. Fernando Henrique estará presente, com a metralhadora apontada para o governo Dilma.

O discurso de Fernando Henrique é cuidadosamente preparado para enfrentar uma tática que já deu certo por duas vezes para os petistas: a transformação da eleição presidencial em uma espécie de plebiscito, onde, mais do que escolher entre candidatos, o eleitorado é instado a apontar se deseja ou não a continuidade de um modelo. Funcionou em 2006, na reeleição de Lula, e em 2010, com Dilma. E está sendo usada por Lula como um bordão na série de eventos desenhada para comemorar o aniversário do PT. "Quem teme a comparação é o outro lado. Eles ficavam sem dormir quando eu falava ‘nunca antes na história do Brasil’", discursou o petista, na última quinta-feira. "Eu fazia isso para o povo compreender o que ele tinha e o que ele passou a ter. E a Dilma tem que continuar fazendo, porque a comparação é a evolução das coisas que aconteceram nesse país."

 


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