Jornal Estado de Minas

Pastor Marco Feliciano quer ser presidente da República

Adriana Caitano
O presidente da Câmara, Henrique Alves, conversou com o pastor Feliciano (D) e disse que o bate-boca de quarta-feira foi lamentável - Foto: José Cruz/Abr Alçado à fama depois de assumir o comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) sob acusação de ser racista e homofóbico, o deputado federal e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) já capitaliza o episódio a seu favor  e ganha força para disputar, dentro do partido dele, a vaga de candidato à Presidência da República em 2014. O parlamentar divulgou, no ano passado, que tinha essa pretensão política, mas que não obteve apoio do PSC. Agora, já coleciona apoio e, nos bastidores, comemora o momento, que o fortalece diante do eleitorado conservador.
Em novembro do ano passado, Feliciano publicou no Twitter que pretendia pleitear a candidatura presidencial. “O PSC discute a possibilidade de ter, em 2014, candidato a presidente da República. Eu disse que sou a favor e me coloquei à disposição do partido”, disse. Na época, o vice-presidente da legenda, pastor Everaldo Dias Pereira, foi apontado como possível escolhido para a disputa. Desde então, ele roda o país em romaria para ampliar a capilaridade da sigla. Nas últimas semanas, Everaldo foi visto aplaudindo a confusão provocada por manifestantes contrários a Feliciano. “Falem mal, mas falem de nós”, teria dito. Em seu blog, saiu em defesa do deputado: “Nossas escolhas são feitas após relevantes debates internos. No PSC ninguém decide por nós coisa alguma no grito”.

A comemoração de Everaldo, porém, pode virar-se contra ele. Fontes ligadas a Feliciano admitem que ele está cada vez mais motivado a aproveitar a euforia em torno de seu nome para garantir no mínimo o dobro de votos para reeleger-se deputado. “Para ele, tudo isso é bom porque ele representa um nicho que apoia essas posições extremadas e tem recebido todo o apoio dessas pessoas”, comenta um integrante do PSC. Se a visibilidade do pastor durar até o fim do ano, ele chegará à convenção nacional do partido com o nome mais fortalecido que o do  vice-presidente da legenda, avaliam interlocutores.

Outro grupo do PSC, porém, preocupa-se com as consequências negativas do chamado “fator Feliciano”. “Espero que a população saiba dissociar, porque há também, no partido, evangélicos que não concordam com ele, católicos e até espíritas, e o impacto pode ser bom para uns e ruim para outros”, avalia um parlamentar da sigla. O deputado Sílvio Costa (PTB-PE) critica a politização do tema. “Se estabeleceu um jogo eleitoral na CDHM; é um grande teatro em que os dois lados querem agradar a seus públicos e devem dobrar o número de votos”, reclama.

Ao ser cobrada uma ação incisiva no impasse, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), reuniu-se separadamente com Feliciano, com o líder do PSC, André Moura (SE), e com parlamentares contrários à permanência do pastor na CDHM. “As cenas (de briga na comissão) são lamentáveis. Pedi a ambos os grupos um comportamento de equilíbrio, moderação e responsabilidade, porque esse radicalismo não está compatível com o que a Casa tem o dever de apresentar à sociedade brasileira”, comentou Henrique.

Ainda nessa quinta-feira, no plenário da Câmara, críticos de Feliciano chamaram a atenção para um vídeo que circula na internet em que o pastor faz críticas ao Congresso e ao governo. “Me apavora chegar a Brasília toda terça-feira, entrar na Câmara dos Deputados e saber como o diabo está infiltrado no governo brasileiro. Satanás levantou seu ativismo neste país”, disse o deputado, em um culto evangélico. O deputado Chico Alencar (PSol-RJ) rebateu a fala do pastor. “Qualquer um pode desenvolver sua atividade pastoral num outro plano. Agora, dizer tudo isso é muito primário, rebaixado, medieval, e é claramente um ataque à ética e ao decoro parlamentar”, criticou. (Colaborou Juliana Colares)