Vladimir Herzog, nascido na Croácia, era diretor da TV Cultura de São Paulo quando foi convocado a prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro ao Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), do II Exército, em São Paulo. O jornalista compareceu ao local e foi torturado até a morte. À época, o Exército alegou que Herzog se enforcou com um cinto do uniforme de presidiário. Uma foto foi montada para apoiar a versão.
A entrega da nova certidão de óbito de Herzog ocorreu em cerimônia no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo. O documento foi recebido pela viúva do jornalista, Clarice, e pelos filhos, Ivo e André. “O atestado conserta um absurdo feito contra a família, uma humilhação, de nos forçar a aceitar que ele teve uma atitude covarde de suicídio. A maior alegria é pelo que isso pode significar para outras famílias que passam até hoje pela mesma tortura”, afirmou Ivo, diretor do Instituto Vladimir Herzog, em entrevista ao Estado de Minas. “Eu cresci sem pai, cresci embaixo da sombra de um mártir da ditadura”, lamentou.
Ivo torce para que o Supremo Tribunal Federal reveja a posição adotada quanto aos crimes do passado militar do país, entre 1964 e 1985. O entendimento do STF é de que a anistia vale tanto para as forças de resistência ao golpe quanto para os militares envolvidos em torturas e outros crimes.
O deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG) endossa o pedido da família Herzog. “Em algum momento o Brasil vai ter de saldar essa dívida”, afirma. Para Miranda, que foi secretário de Direitos Humanos da Presidência da República, a apuração dos crimes da ditadura seria um ajuste necessário para o futuro da democracia brasileira. “O caminho do processo democrático é de desfazer a impunidade dos crimes contra a humanidade cometidos no passado. Recuperar esse passado é o primeiro passo para evitar a repetição da tortura e das execuções, que acontecem até hoje”, disse.