Juliana Cipriani
Leonardo Augusto
Enviado especial a Cipotânea
Pedrosa é o sobrenome mais lido nas ruas de Cipotânea. Está na ponte, no posto de saúde, no campo de futebol, na escola e na praça. Está também na boca da população da pequena cidade de 6 mil habitantes na Zona da Mata, a 180 quilômetros de Belo Horizonte. Pertence a uma família que em 2016 vai completar 37 anos no comando do município, em sete mandatos exercidos por avô, neto e dois sobrinhos. O desempenho da dinastia Pedrosa impressiona sobretudo pela idade de Cipotânea, emancipada há apenas 60 anos. Herança bendita ou maldita? Quem decide são seus moradores, e também os de outros municípios espalhados por várias regiões de Minas Gerais que assistem há décadas famílias ocuparem o principal posto do Executivo da cidade: o de prefeito.
Em Cipotânea, os Pedrosa têm lugar na prefeitura desde 1959, quando o patriarca da família, José Dias Pedrosa, foi prefeito pela extinta UDN (ficou até 1962 e, depois, de 1967 a 1970). Em seguida veio Jonathas Pedrosa (1973 a 1988), tio do atual prefeito, e o irmão dele Ely Pereira (2001 a 2004). Com a morte de Ely, a cidade ficou quatro anos com um prefeito de fora da família, e em 2008, Luiz Moreira Pedrosa (PTB) conquistou seu primeiro mandato. “Falam que é o sangue, tem tradição”, diz o prefeito reeleito.
Apesar de ter entrado tarde para a política, aos 59 anos, Luiz já tinha contato com o universo político desde cedo. “Participava e acompanhava a política do meu tio, ficava em Cipotânea para ajudar, pedir votos”, disse. O prefeito não poupa elogios à família. “Falam em Cipotânea que a gente é convidado para consertar a prefeitura. Não pensava nisso, mas hoje digo com orgulho que sou prefeito e a minha cidade é outra”, diz. E já tem o próximo da fila na lista. “Acho que vai ser o meu irmão Paulo Pedrosa (PTB), porque acho que já contribuí, mas ele só pode em 2016”, afirmou o prefeito, lembrando que a Justiça Eleitoral proíbe parentes dos prefeitos de se candidataram no pleito em que ocupam mandatos.
Tanta confiança, no entanto, pode criar armadilhas. Luiz Moreira Pedrosa assume ter utilizado máquinas agrícolas públicas para sua roça de milho. “Também sou produtor rural. Tenho direito”, argumenta. A denúncia foi entregue por rivais ao Ministério Público estadual. Luiz é acusado também, pelo único vereador de oposição na cidade, João Marques Moreira (PSL), de não realizar licitação para o bar que funciona no estádio da cidade em períodos de campeonato, e de entregar o estabelecimento a aliados políticos. “Nos anos anteriores realmente não houve concorrência, mas este ano vai ter”, promete o prefeito.
Luiz Pedrosa nega ainda participação no esquema montado por motoristas de ônibus municipais, que deveriam ser usados exclusivamente no transporte de alunos da rede de ensino, para cobrar passagem de moradores da zona rural em viagens de ida e retorno da cidade. “Não sabia de nada. Assim que tomei conhecimento mandei um ofício para cada um dizendo: “Se o Ministério Público me acionar, vocês serão responsabilizados’.”
Retorno Em Dionísio, na Região Central do estado, a 250 quilômetros de Cipotânea, a história quase se repete. A diferença é que o herdeiro político é mais novo. Quem vê Frederico Henriques Figueiredo Coura Ferreira (PSDB) assumir pela primeira vez o comando da prefeitura, aos 23 anos, não imagina o caminho que o fez largar a profissão de engenheiro civil, para a qual se formou em dezembro do ano passado, e rumar para a política. Foi praticamente uma questão de revanche familiar. Frederico é a volta por cima dopai, José Henriques Ferreira, que foi prefeito por três mandatos e foi cassado no último ano deles, em 2007, por ter concedido descontos na conta de água dos moradores nos dois meses anteriores à sua eleição em 2004. “Concorri a pedido do povo e é uma volta por cima. Mostra que meu pai foi cassado porque fez algo pelo povo”, disse.
Além de Frederico e o pai, José Henriques, o novo prefeito de Dionísio conta que o avô Valdivino Ferreira foi vice-prefeito da cidade. Os parentes por parte de mãe dominaram o Legislativo: o avô Eder Coura e o bisavô Joaquim Coura foram presidentes da Câmara Municipal. “Nosso grupo político como um todo tinha 20 anos no poder e o meu pai foi cassado. Foi bom que experimentaram uma coisa diferente e não gostaram”, afirmou, referindo-se ao período que a oposição assumiu o poder (2009–2012). Depois de anos estudando em Belo Horizonte, o filho à casa voltou para ser prefeito.
Mérito A influência do pai também fez Rafael Dotti de Carvalho (PR), 37 anos, chegar pela porta da frente à política na última eleição, em outubro. Ele foi eleito prefeito de Inimutaba, Região Central de Minas, herdando o espólio político do pai, Gilson Carvalho de Sales (DEM). “A influência do meu pai foi muito grande, eu já vinha acompanhando o trabalho dele mesmo antes de virar chefe de gabinete dele, função que exerci por oito anos”, disse Rafael. O ex-prefeito Gilson esteve à frente da prefeitura de 1993 a 1996 e de 2001 a 2008.
O prefeito estreante reconhece que o pai teve um papel muito importante na sua investida política, mas não nega o mérito próprio. “Conheço 90% da população, atendia as demandas e passava as reivindicações para o meu pai. Sou também sou formado em administração e professor estadual, conheço muitos jovens, e de dois anos e meio para cá veio aumentando essa possibilidade de me candidatar, aí me interessei e deu certo”, conta. O pai, de 69 anos, é aposentado, menos na função de dar conselhos ao filho que continuou seu legado.