Denise Rothenburg, Juliana Braga e Amanda Almeida
Brasília – Ciente da necessidade de agradar aos aliados para evitar debandada em 2014, a presidente Dilma Rousseff deu posse ontem a três novos ministros sinalizando que a minirreforma pode ser mais profunda. Nas entrelinhas do discurso, peemedebistas viram a chance de ter as portas abertas no segundo e terceiro escalões e, ao contrário do que tem feito Dilma até então, conseguir nomeações políticas em secretarias e em cargos onde ela tem preferido nomes técnicos. E os insaciáveis já têm preferências: miram indicações em diretorias de agências reguladoras e estatais.
A posse dos ministros Moreira Franco (Aviação), Antônio Andrade (Agricultura) e Manoel Dias (Trabalho) ontem no Planalto está longe de resolver de uma vez por todas o relacionamento entre Dilma e a base aliada. Além dos partidos que ainda não foram chamados a integrar o governo, caso do PR e do PTB, aqueles que já foram contemplados querem mais. Muito mais. A partir de agora, voltará a pressão por espaço nas agências reguladoras, e nos escalões inferiores dos ministérios e empresas públicas e sociedades de economia mista, caso da Petrobras. Principalmente depois do discurso de Dilma de que aprendeu o valor da lealdade, da paciência, da urgência e enaltecendo o valor da coalizão.
Em conversas reservadas, os peemedebistas dizem que até agora “houve uma coligação e não uma coalizão”. Citam como exemplo o fato de não conseguirem sequer ter os secretários-executivos dos ministérios que ocupam. Um exemplo do controle de Dilma no segundo escalão está no Ministério do Turismo. Apesar de o titular ser o peemedebista Gastão Vieira, da cota do ex-presidente do Senado José Sarney, o controle da estatal Embratur, com orçamento de R$ 80 milhões, está com Flávio Dino (PCdoB-MA), escolha da presidente e rival de Sarney no Maranhão.
Sem rodeios A palavra de ordem no PMDB é “participar” das políticas, da estrutura de poder e das decisões. E acham que a presidente está ciente disso. Um dos alvos é recuperar o controle de duas diretorias da Petrobras que já foram ocupadas pelo partido: a internacional, já chefiada por Jorge Luiz Zelada, e a de abastecimento, uma vez comandada por Paulo Roberto da Costa.
Dilma reavaliou sua postura para garantir o apoio da base aliada até 2014. O PDT, com movimentos do deputado Paulo Pereira da Silva (SP), deu sinais claros de que, não havendo flexibilizações, poderia apoiar a candidatura de Eduardo Campos (PSB) ao Planalto. Já no PMDB mineiro, a insatisfação vinha desde o final do ano passado, quando Leonardo Quintão desistiu da candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte para apoiar o derrotado Patrus Ananias (PT). Os primeiros rumores de reforma ministerial contemplavam a legenda apenas em São Paulo, para abrigar o deputado e ex-candidato à prefeitura Gabriel Chalita, no Ministério de Ciência e Tecnologia. O envolvimento do deputado com denúncias de corrupção abriu espaço para Dilma conter os mineiros, evitando uma debandada à candidatura de Aécio Neves (PSDB-MG).
Discurso e lágrimas
No discurso de despedida na manhã de ontem, a presidente Dilma Rousseff reservou palavras carinhosas ao ex-ministro da Agricultura Mendes Ribeiro, que luta contra um câncer que enfrenta. “Com o Mendes Ribeiro, a minha ligação, além de política, tem fortes bases afetivas. A sua colaboração comigo no governo só fez crescer o respeito que eu tenho por ele”, disse a presidente. Chamando-o de “Mendezinho”, ela fez referências diretas à doença e emocionou o ministro ao brincar que ele deveria focar na sua saúde e parar “de andar pra baixo e pra cima”. “Espero, também, que você cuide da sua recuperação, porque eu quero, mais uma vez, contar contigo. Agora, você, Mendes, tem o direito, mas, sobretudo, tem o dever de pensar na saúde, porque nós todos precisamos de você”, disse, emocionada.