Jornal Estado de Minas

Combate ao crime de lavagem de dinheiro põe Brasil à prova

Dificuldades do país no combate à prática de ocultação de recursos será avaliada por grupo internacional. Abin quer identificar falhas, algumas mencionadas pelo presidente do STF

Helena Mader
Relatório feito em 2010 pela Secretaria Nacional de Justiça indicou a vulnerabilidade das regiões de fronteira como risco potencial para lavagem de capitais no país - Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press - 15/5/08

Brasília – As lacunas de legislação e as falhas no combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo podem levar o Brasil a um vexame. A situação do país será analisada em junho pelo Grupo de Ação Financeira Internacional (Gafi), um organismo intergovernamental com poderes para minar a credibilidade dos países vulneráveis a tais crimes. Diante da possibilidade de levar um puxão de orelhas ou até mesmo sofrer punições, o governo acionou os órgãos responsáveis pela prevenção à lavagem de dinheiro para tomar medidas emergenciais. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) começou a fazer uma avaliação de risco para identificar e sanar as principais suscetibilidades e o Ministério da Justiça não descarta implantar ações até junho. No ano passado, a Turquia teve que fazer mudanças na lei de última hora para escapar de punições.

A última visita de representantes do Gafi ao Brasil ocorreu em 2010, quando técnicos da entidade fizeram um relatório apontando avanços, mas também falhas na prevenção à lavagem de capitais. O grupo intergovernamental, principal órgão internacional relacionado ao combate desse crime, apontou a lentidão na tramitação de processos e o excesso de recursos como falhas do sistema legal brasileiro. Desde então, houve mudanças consideradas positivas por especialistas, como a aprovação da nova Lei de Lavagem de Dinheiro, em vigor desde junho do ano passado, que amplia o rol de crimes considerados como antecedentes a esse delito. Mas há problemas que podem comprometer a avaliação: até hoje o Brasil não tipificou o crime de terrorismo, o que prejudica a punição de envolvidos em atividades como o financiamento dessa atividade – uma das grandes preocupações do Gafi.

As vulnerabilidades do Brasil na prevenção à lavagem de capitais ficaram ainda mais expostas na semana passada, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, afirmou que instituições financeiras do país são “lenientes” no controle desse delito. O ministro disse que é preciso punir drasticamente quem oculta a origem ilícita de valores para combater a lavagem de dinheiro. As afirmações foram corroboradas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que denunciou a atuação dessas instituições para “atrasar investigações do Ministério Público”. O procurador revelou que muitos bancos dificultam o acesso a dados que deveriam ser disponibilizados com rapidez.

Informal

O secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, lembra que o relatório de 2010 indicou os maiores riscos de lavagem de dinheiro nas regiões de fronteira do Brasil e na economia informal. Ele garante que houve melhorias significativas nesses aspectos, mas reconhece outras fragilidades pelas quais o país será cobrado. “Nessas duas áreas, avançamos muito. Vários setores entraram para a formalidade e ampliamos as taxas de emprego. No caso das fronteiras, tivemos iniciativas de combate ao tráfico de drogas, pessoas e armas. São medidas importantes tomadas pelo país e que poderemos apresentar aos integrantes do Gafi”, comenta Paulo Abrão.

“O relatório de 2010 também levantou a necessidade de o país tipificar o financiamento ao terrorismo. Essa falta de marco legal é até mesmo impeditivo em processos de extradição, já que a legislação interna não tipifica esse crime. Tenho certeza de que isso será abordado e nós responderemos ao Gafi que há projetos em análise e que o amadurecimento do nosso processo legislativo dará a resposta no tempo certo”, explicou o secretário Nacional de Justiça. “Não há estado de paralisia. O Congresso constituiu uma comissão de juristas para reformar o Código Penal, e existe a proposta para tipificação do financiamento ao terrorismo. É avanço hoje termos uma iniciativa concreta no legislativo” acrescentou Paulo Abrão.