São Paulo, 20 - A Comissão da Verdade de São Paulo está convencida de que o envolvimento de agentes diplomáticos dos Estados Unidos com a ditadura militar (1964-1985) foi mais direto do que se imagina. Por causa disso, seus integrantes vão enviar à Comissão Nacional da Verdade uma solicitação para que analise mais detidamente as denúncias sobre a presença de americanos nas sessões de interrogatório de presos políticos.
Segundo Zarattini, o interrogatório ocorreu após várias sessões de tortura. “Os dois não me torturaram”, esclareceu. “Um deles me perguntou: ‘Por que você é contra os Estados Unidos?’ Eu respondi que não era contra os Estados Unidos, mas contra o imperialismo”.
Zarattini militava no Partido Comunista Revolucionário e tentava organizar um movimento de guerrilha rural na zona canavieira pernambucana. Depois do interrogatório, disse ontem, não viu mais os americanos.
Só foi saber que um deles era Melton em 1989, quando foi nomeado embaixador e os jornais publicaram fotos dele. O caso provocou polêmica na época e a aceitação da nomeação, o chamado agreement, demorou mais que o usual. Segundo informações obtidas por Zarattini, o Itamaraty teria consultado o Ministério da Justiça, que afirmou não haver indicação do envolvimento de Melton com o Dops.
A Comissão Estadual vai oficiar a Comissão Nacional e a Comissão Helder Câmara, de Pernambuco, para que seja investigado de maneira mais detalhada o envolvimento de Melton com a repressão. “A participação do agente diplomático no interrogatório é gravíssima”, disse ontem Amélia Telles, assessora da comissão. “E esse caso não é único.”
Zarattini disse que decidiu rever o caso de Melton após a leitura de reportagem do Estado, publicada em fevereiro, revelando que um agente do consulado americano em São Paulo era frequentador assíduo do Dops paulista.