Oito minutos foi o tempo de duração da sessão de ontem da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, a segunda sob a presidência do pastor Marco Feliciano (PSC-SP), acusado de declarações racistas e homofóbicas. O parlamentar perdeu o apoio até de sua legenda, o PSC, e está sendo pressionado pelo partido e também pelo comando da Câmara a renunciar ao posto. Feliciano, que enfrenta protestos generalizados Brasil afora contra sua eleição para o cargo, não teve condições ontem de conduzir a sessão da CDHM. Ele apenas abriu a reunião e deixou o plenário escoltado por seguranças legislativos, em meio a manifestações.
Mesmo com a saída do pastor, a reunião teve de ser encerrada em seguida por causa dos protestos e de um tumulto envolvendo o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), aliado de Feliciano, e militantes dos direitos humanos. Provocado pelos ativistas, que o chamavam de gay, Bolsonaro revidou com palavrões.
Depois da confusão, o líder do PSC, André Moura (SE), reuniu-se com o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para tratar da situação da CDHM. Segundo Moura, o presidente da Câmara pediu que Feliciano deixe a comissão. “Vamos cumprir o apelo do presidente. Vamos conversar com o pastor e fazer uma avaliação das manifestações externas e das ponderações do presidente da Casa”, relatou Moura após a conversa com Alves. Mesmo que Feliciano deixe o posto, a comissão deve permanecer sob o comando do PSC, partido majoritariamente formado por pastores e lideranças evangélicas. O assessor de imprensa de Feliciano, Wellington Oliveira, entretanto, negou que o deputado vá deixar a comissão. “Não renunciou nem vai renunciar”, afirmou.
Para se contrapor à permanência do deputado na CDHM, foi lançada ontem oficialmente a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos. O deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), integrante da CDHM e da frente, disse que o evento reuniu representantes de todos os partidos, inclusive dos tidos como mais conservadores. Ele afirmou que vai assumir o papel da comissão na discussão de assuntos de interesse de grupos minoritários, como negros, mulheres e homossexuais. Cético, o parlamentar não acredita na renúncia do pastor ao cargo. “Mas torço para que seja verdade”, afirma. Segundo ele, a comissão não terá condições de funcionar enquanto permanecer sob o comando de Feliciano.
Nessa quarta-feira de madrugada, a sede do PSC em Belo Horizonte, na Floresta, foi pichada com protestos contra o presidente da CDMH. A inscrição “fora Feliciano e todos os racistas” foi assinada pela Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel), entidade estudantil de esquerda, ligada ao PSTU.