Adriana Caitano
Brasília – Desde que o pastor Marco Feliciano (SP) foi indicado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, no dia 5, o até então distante dos holofotes Partido Social Cristão (PSC) ganhou visibilidade em todo o país. A fama trazida por Feliciano não revelou, no entanto, que o PSC é um partido de média expressão – a bancada federal é maior que a de 13 dos 24 partidos com representação no Congresso – e tem em seus quadros também católicos, espíritas, prostitutas, negros e homossexuais.
Nas últimas reuniões do partido, alguns integrantes têm reclamado da imagem negativa adquirida com a superexposição por causa das polêmicas envolvendo Feliciano – o deputado já disse, por exemplo, que os negros são “descendentes de ancestral amaldiçoado por Noé” e que a “Aids é um câncer gay”. Muitos temem que toda a legenda receba a pecha de homofóbica e racista, além de parecer que há nela apenas evangélicos. “Mas o partido não é uma igreja, tem gente de toda religião e, graças à democracia, até ateu entra à vontade, desde que concorde com os princípios cristãos”, explica o vice-presidente do PSC, pastor Everaldo Dias Pereira.
Dias Pereira destaca também que o partido não filtra a entrada na legenda por orientação sexual ou profissão. No ano passado, o PSC teve pelo menos dois desses exemplos na disputa por vagas em câmaras municipais. Negro e homossexual, o dançarino Fabety Boca de Motor foi candidato a vereador em Salvador após ganhar destaque com um axé em que se diz “uma bicha transparente, a rainha dos moleques” e ainda faz alusão ao sexo oral. “Nós só dissemos a ele que somos contra o casamento entre homossexuais, mas ele disse que se sentia bem no partido e foi muito bem aceito”, relata Pereira. Em Fortaleza, a ex-prostituta e ex-stripper Deborah Soft também disputou as eleições pela sigla cristã, com o slogan “vote com prazer”. Nenhum dos dois foi eleito.
De olho no Planalto
A bancada do partido na Câmara não é das menores, tem 16 deputados (17 foram eleitos em 2010, mas um deixou a sigla) – maior até que os conhecidos PPS e PCdoB. Ainda assim, o partido já foi confundido com o de José Maria Eymael (PSDC), eterno candidato a presidente. Mas, além de Feliciano, o PSC tem ou teve nomes de expressão nacional, como Ratinho Jr., filho do apresentador do SBT, deputado federal licenciado e que chegou ao segundo turno na disputa pela prefeitura de Curitiba no ano passado; o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz e sua mulher Weslian Roriz, que se candidatou ao posto em 2010 (ambos já deixaram a legenda), e Hugo Leal (RJ), deputado que ficou conhecido por ser relator do projeto que originou a lei seca.
O que todos os integrantes do partido concordam, porém, é que o episódio trouxe fama à legenda, que deve lançar Everaldo Pereira à Presidência da República e sonha em dobrar a bancada em 2014. “A mesma linguagem que fala de crise fala de oportunidade e temos que aproveitá-la”, comenta o vice-presidente da sigla. “Sempre nos tiveram como nanicos e agora as pessoas estão vendo quem somos. O futuro pertence a Deus, mas o presente está ótimo”.
Números e curiosidades
O PSC foi fundado em 1985 e criado oficialmente em 1990
Participou da coligação que elegeu Fernando Collor presidente da República em 1989
Lançou candidato próprio a presidente em 1994 e 1998
Entre as eleições de 2002 e de 2010, o tamanho da bancada na Câmara dos Deputados cresceu 1.600% – passou de 1 para 17 representantes
Atualmente, a legenda tem 16 deputados federais, um senador e 68 prefeitos
Total de filiados em todo o país: 336 mil