Cidade do Vaticano – Documentos diplomáticos mantidos em arquivos de embaixadas na Santa Sé revelam que a Organização das Nações Unidas (ONU) contou com os esforços do cardeal dom Paulo Evaristo Arns na tentativa de influenciar o papa Paulo VI e a Cúria no Vaticano para que a Igreja fizesse críticas aos regimes militares sul-americanos nos anos 1970.
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Arns, num primeiro estágio, levaria o texto redigido pela ONU à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em abril daquele ano para sua aprovação, como se fosse de sua autoria. "O clero liberal contatado se responsabilizará em mobilizar as conferências episcopais nacionais onde os textos adotados pelas assembleias irão em discussão em Puebla depois das reuniões de trabalho", indicou a ONU.
Segundo o documento, a missão sugeria que outros funcionários das Nações Unidas buscassem contatos com cardeais que seguiam a mesma tendência de Arns pela América Latina para que adotassem uma posição semelhante, criando uma rede do alto clero capaz de forçar a aprovação de um texto de crítica à situação latino-americana. Essa lista incluía Ricardo Durán Flores de Callao, bispo auxiliar de Lima, o cardeal de Quito, Paulo Munoz, e o arcebispo de La Paz, Manrique.