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Estado de Minas

Declaração de pastor Marco Feliciano dispara fogo amigo

Vice da Comissão de Direitos Humanos ameaça deixar o cargo após Feliciano ter dito que o colegiado era "dominado por Satanás". Ex e atuais integrantes do grupo farão queixa-crime


postado em 02/04/2013 06:00 / atualizado em 02/04/2013 09:01

Brasília – As afirmações do deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) no fim de semana pioraram ainda mais a situação dele na Câmara dos Deputados e desencadearam protestos inclusive dentro do próprio partido do parlamentar. Em culto evangélico na cidade de Passos (MG), na sexta-feira, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Casa disse que o colegiado “era dominado por Satanás” até o momento em que ele assumiu seu comando. Em reação, a vice-presidente da comissão, deputada Antônia Lúcia (PSC-AC), correligionária de Feliciano, anunciou que deixaria o cargo, em telefonema ao líder da bancada, André Moura (SE). Ex-presidentes do colegiado e os atuais integrantes também protestaram e estudam maneiras de tirá-lo do posto e processá-lo por injúria ou difamação. Se levada a efeito, a ameaça da deputada poderá abrir a sequência de renúncias na comissão proposta pela pelo PPS como saída para forçar uma nova eleição para o cargo ocupado por Feliciano.


“Essa manifestação toda se dá porque, pela primeira vez na história deste Brasil, um pastor cheio de Espírito Santo conquistou espaço que até ontem era dominado por Satanás”, disse Feliciano durante o culto em Passos organizado pela Igreja Assembleia de Deus, enquanto do lado de fora do ginásio em que o evento era realizado cerca de 50 pessoas usando cartazes e camisetas protestavam contra a sua permanência à frente da comissão da Câmara. “Quando cito Satanás em locais de trabalho, falo sobre adversários. Satanás ou Satã no hebraico significa adversário/acusador”, justificou ontem o pastor pelo Twitter, diante das reações negativas à declaração.

Pouco antes, Antônia Lúcia, que também é evangélica, havia dito que se sentiu ofendida com a fala de Feliciano, porque está na comissão há três anos. “Em respeito à minha própria pessoa, ao meu trabalho como parlamentar, eu não aceito uma declaração dessas. Eu acho que nós temos que separar Igreja de Parlamento”, afirmou. Ela defendeu também outros integrantes e do antecessor de Feliciano na comissão. “Convivi esses anos todos com o deputado Domingos Dutra (PT-MA, ex-presidente do colegiado) e em nenhum momento eu diagnostiquei qualquer atitude dele que me levasse à conclusão de que ele seja satânico”, disse.

O deputado Domingos Dutra pretende se reunir hoje com outros ex-presidentes do colegiado para elaborar uma possível queixa-crime contra o pastor no Supremo Tribunal Federal (STF), acusando-o de injúria ou difamação e de provocar danos morais ao grupo. “Pessoas espalharam imagens minhas com chifres. É uma agressão a toda a Câmara”, disse Dutra. “Ele está muito entusiasmado com a notoriedade. Ele era desconhecido e agora não tem limite", completou Dutra, que disse ainda que não se convenceu com a explicação de Feliciano: “Ao afirmar que todos os ex-presidentes da comissão eram Satanás, ele tenta nos colocar contra todos os religiosos. Tenta enquadrar todo mundo na religião dele e tenta aumentar a discriminação”.

Os integrantes do colegiado também devem se reunir hoje para avaliar a possível entrega de recurso à Mesa Diretora da Casa pedindo a anulação da sessão em que Feliciano foi eleito presidente, alegando que ela não poderia ter ocorrido a portas fechadas. “As últimas afirmações são mais um atestado da completa incapacidade do deputado de presidir esta comissão”, destacou Erika Kokay (PT-DF), integrante do colegiado.

Representação

O deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), suplente da comissão, anunciou que vai entregar representação à Corregedoria da Câmara contra Feliciano, argumentando que Feliciano quebrou o decoro parlamentar ao utilizar irregularmente a verba a que tem direito como deputado. Jordy ainda deve protocolar requerimento sugerindo a renúncia coletiva dos membros da comissão, o que obrigaria a mesa a refazer a eleição do presidente do colegiado.

Na noite de ontem, uma manifestação reuniu cerca de 50 pessoas em frente ao Palácio do Planalto, cobrando posicionamento da presidente Dilma Rousseff. "Não é apenas o Congresso que tem responsabilidade na permanência de Feliciano na comissão. A presidente lavou as mãos mais uma vez", disse o estudante da UnB Luiz Eduardo Sarmento, de 25 anos.

Fôlego extra

A permanência de Marco Feliciano (PSC-SP) na Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara ganhou mais uma semana. A reunião de líderes que ocorreria hoje, na qual seria discutida a crise no colegiado com Feliciano, foi remarcada para o dia 9. De acordo com a assessoria de imprensa da Câmara, a mudança da data da reunião foi definida para que o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), possa repousar. Ele foi submetido a uma cirurgia de hérnia abdominal em 28 de março.


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