Maria Clara Prates
Unidade foi o remédio receitado ontem pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso para que o PSDB consiga voltar ao comando do país. “Unidos, nos apoiando, temos tudo para vencer. A vitória começa em casa. Um primeiro passo para a vitória é a unidade do PSDB. Cansei de ver o PSDB dividido. Chega”, afirmou FHC, em discurso de encerramento do Congresso Estadual do PSDB, na Assembleia Legislativa de São Paulo. O discurso tenta pôr fim a um racha interno no partido às vésperas da eleição para a presidência do tucanato. Uma ala, capitaneada pelo próprio ex-presidente, já demonstrou apoio explícito ao senador mineiro Aécio Neves, enquanto outra ainda defende o nome do ex-governador de São Paulo José Serra.
A discordância ficou evidenciada em um reunião interna do PSDB realizada há duas semanas, em São Paulo, para discutir a conjuntura nacional, com a ausência do tucano paulista José Serra. Na ocasião, Aécio Neves foi indicado para a presidência do partido e também como possível candidato à sucessão de Dilma Rousseff no comando da República, nas eleições de 2014. Ele contou com apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um aliado do grupo de Serra.
Ontem, o presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra, que acompanhou Fernando Henrique Cardoso, afirmou que o surgimento de novos candidatos à Presidência da República dá aos tucanos grande chance de vencer as eleições presidenciais do ano que vem. “O surgimento de novos candidatos, não com 2% ou 3% nas pesquisas de opinião, mas com 11% hoje, demonstra que temos grande chance”, disse Guerra. Ele também defendeu que o partido se una para dar um passo à frente, levando a todo o país o que hoje é a “hegemonia do PSDB no Sudeste”.
Conciliador
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reivindicou mais uma vez para seu governo o crescimento econômico do país e as conquistas sociais, mas alertou que não se pode viver do passado. Ele defendeu que em vez de comparar as heranças deixadas pelos governos tucano e petista o PSDB foque no futuro. “O que o PSDB tem a oferecer não é comparar legado com legado, o passado passou. Daqui para frente, nós de novo somos a bola da vez”, afirmou. E dentro desse tom conciliador, FHC elogiou os governos Lula e Dilma por suas conquistas sociais, mas não perdeu a oportunidade de deixar sua alfinetada . “Hoje, para alegria de todos nós, as camadas mais pobres têm maior capacidade de consumo, isso começou por nós. O governo Lula e o governo Dilma fizeram bem, como se fez bem agora ao dar benefícios trabalhistas às empregadas domésticas. Tudo que é positivo no social tem de ter o apoio do PSDB. Fizeram bem, mas não fizeram o suficiente. Porque agora esses milhões que estão com maior capacidade de renda querem qualidade”, defendeu.
Além da união, o ex-presidente deixou um outro recado para os militantes: o partido precisa mudar a forma de se comunicar para se aproximar da população. “Não precisa falar de gestão, choque de gestão. Tudo bem, isso é para nós. Nós temos de fazer. Choque é desagradável, ninguém gosta de sentir choque. O povo gosta de sentir é carinho, gosta de sentir eficiência de quem está junto, de quem está perto”, aconselhou FHC. A escolha do novo presidente do partido será em maio, durante o congresso nacional do PSDB. A reunião do diretório estadual de São Paulo, ontem, discutiu o documento intitulado Carta de São Paulo, no qual são traçadas as diretrizes que o partido deverá adotar nos próximos anos.
"Desapego" ao poder
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), criticou ontem a situação econômica do país e o momento político, de mobilização de candidatos e partidos de olho na eleição presidencial de 2014. Campos é o possível candidato do PSB à sucessão da presidente Dilma Rousseff. Ele iniciou seu discurso de abertura das oficinas “Diálogos do desenvolvimento brasileiro”, promovidas por sua legenda no Rio de Janeiro, afirmando que “ao PSB não encanta um projeto de poder, mas de nação”. E continuou: “Enquanto muitos podem pensar só em eleição, vamos pensar no Brasil”. Apesar das críticas à pré-campanha, Campos tem circulado pelo país levando sua mensagem política. Na sexta-feira esteve em São Paulo, onde estará novamente amanhã, antes de viajar a Porto Alegre. Mesmo assim, ele sustenta que sua agenda não é a de um candidato.