Jornal Estado de Minas

Entrevista / Sérgio Guerra

Conheça o mapa do PSDB para tentar chegar ao Planalto

Deputado revela a estratégia em que ele aposta para viabilizar a vitória de Aécio em 2014: unir os tucanos paulistas e explorar a redução da influência do PT no Nordeste

- Foto: Monique Renne / EM / DA Press
Brasília – O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), entrega no mês que vem o comando do partido ao presidenciável Aécio Neves (MG). Para Guerra, ser presidente do PSDB e, ao mesmo tempo, candidato do partido ao Planalto em 2014 ajudará o senador mineiro a tornar-se mais conhecido nacionalmente e reforçará os laços dele com a militância tucana. “Aécio chegará à eleição mais conhecido”, disse ele.


Apesar dos altos índices de aprovação pessoal e de governo da presidente Dilma Rousseff e de uma confortável dianteira da petista nas pesquisas de intenção de voto, Sérgio Guerra acredita que a próxima eleição será diferente da anterior. A economia já não tem o mesmo desempenho, a inflação é uma ameaça, o emprego declina e as obras prometidas não saíram do papel.
Para aproveitar esse cenário, é fundamental a unidade partidária. “Se não tivermos unidade em São Paulo, não seremos beneficiados pela divisão que as candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva provocarão no Nordeste”, comentou, em entrevista ao Estado de Minas.

 

O PSDB corre o risco de repetir 2002, 2006 e 2010 e entrar na eleição presidencial sem unidade em torno de uma candidatura própria?

Não dá para olhar para a frente com a visão da última eleição. São mais de 10 anos de governo do PT, notória incapacidade gerencial, insatisfação crescente de setores sociais relevantes e taxas de inflação preocupantes, além de problemas no câmbio. Questões gerais para as quais o governo atual não dá resposta.

Mas Lula foi eleito, reeleito e conseguiu fazer Dilma como sucessora.

São situações diferentes. As taxas de crescimento eram importantes, a inflação estava sob controle e os investimentos eram anunciados. Hoje, o quadro econômico não tem, de forma alguma, semelhanças com o que tinha naquele período. O ambiente hoje é de mera protelação. Dilma é presidente, sofrendo críticas da oposição e de todos. Ela tem que se expor e explicar as obras que até agora não se realizaram.

O PSDB está conseguindo aproveitar politicamente essa situação?

Nas últimas eleições, o PSDB não valorizou como deveria o seu legado. Isso nos custou caro. O partido, em vez de valorizar o governo Fernando Henrique e a sua experiência governamental, perdeu-se ao investir na tese de que o nosso candidato era o melhor para dar continuidade ao governo Lula. Foi a anulação do nosso valor enquanto partido.

O que muda para a eleição do ano que vem?

Essa eleição começa diferente. A base do governo está fraturada. As eleições brasileiras vão estar equilibradas até chegar ao Nordeste, onde o PT normalmente mostrava sua força. Agora, há um (provável) candidato do Nordeste (Eduardo Campos, governador de Pernambuco) que, seguramente, divide o eleitorado. Ele e Marina Silva são candidaturas que, provavelmente, começarão com 15% ou mais de intenção de voto.

Apesar desse cenário adverso, a presidente Dilma mantém índices folgados de avaliação positiva pessoal, de governo e de intenção de voto...

Há uma exacerbação da propaganda pública e da imagem da presidente e uma diminuição da oposição no Parlamento. A capacidade de superfaturar as realizações públicas é óbvia quando a presidente da República ocupa, às vésperas das pesquisas, o espaço na televisão para anunciar bondades para a população.

Eduardo Campos divide os votos apenas dos governistas? Existem analistas que acreditam que ele está invadindo o espaço dos tucanos também.

Ela (candidatura de Eduardo Campos, se confirmada) divide os votos que o governo teria no Nordeste. Por isso, precisamos manter as nossas bases no Sudeste. O que implica, de maneira muito clara, já que nosso candidato é mineiro, com fortes laços no Rio de Janeiro, manter nossa posição de hegemonia em São Paulo.

Uma das bandeiras do PT em 2014 é conquistar o governo de São Paulo. O PSDB caminha para 20 anos de governo no estado. Será uma eleição mais difícil do que as outras?

Não há eleição fácil. Se Fernando Haddad (prefeito de São Paulo, do PT) se confirmar como administrador competente, ele tem mais capacidade de interferir na eleição estadual. Em São Paulo, estamos no poder há muitos anos e isso gera relativo desgaste. A gente tem que enfrentar isso e resolver os problemas. Precisamos dessa vitória e dessa unidade. Se não tivermos unidade em São Paulo, não seremos beneficiados pela divisão que as candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva provocarão no Nordeste.

O tucanato paulista está mais simpático à tese de um presidenciável mineiro?

Não faz 30 dias que o PSDB de São Paulo recebeu o provável candidato Aécio Neves em uma reunião do partido, na qual estavam presentes dezenas de prefeitos, a executiva estadual inteira e mais de 30 deputados federais, em uma prova de unidade clara.

O ex-governador José Serra não estava presente…

O ex-governador José Serra, sem o qual nossa unidade estará capenga, estava viajando. É indispensável, para o conjunto de nossas forças, contar com a colaboração de José Serra para que elas não fiquem prejudicadas.

O senhor imagina Serra deixando o PSDB?

Não. O eleitor do Serra confunde o Serra com o PSDB e o PSDB com Serra.

O presidente de um partido tem trabalho para organizar palanques e fechar coligações. Acumular essa tarefa com a de candidato a presidente da República não é esforço grande demais?

Aécio ainda é desconhecido. Na hora em que ele assumir o partido, terá mais chance de se deslocar pelo Brasil inteiro. E, principalmente, de conquistar os nossos militantes, nossos quadros.

Antecipar em quase dois anos a eleição presidencial é bom para quem?

A antecipação da eleição presidencial quem fez foi o governo. Pela razão clara de que quis, desde logo, soldar a sua base. Para Aécio Neves foi importante porque ele poderá ter maior exposição. Aécio já vai chegar na campanha bem mais conhecido.