Jornal Estado de Minas

Políticos ainda não sabem usar as redes sociais, aponta pesquisa da UFMG

Resultado de pesquisa feita em 14 capitais do país aponta que as redes sociais são pouco ou nada utilizadas para promover o debate em torno das propostas de governo dos políticos

Para o professor Wagner Meira, o Brasil ainda está na "idade da pedra" no quesito redes sociais - Foto: Euler Junior / EM
Entre tentativas e resultados pouco ou nada profícuos, o uso da internet, em especial das redes sociais, ainda continua sendo “um território a ser desbravado” pelos políticos brasileiros para interagir com o eleitorado. Além disso, esse trabalho que deveria ser sistemático tem se concentrado apenas no período eleitoral, com resultados irrelevantes do ponto de obtenção de sucessão nas urnas. Essa avaliação faz parte de uma pesquisa que será revelada em detalhes ainda no primeiro semestre deste ano por um grupo envolvendo 30 alunos e professores dos departamentos de Ciência da Computação, História e Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 14 capitais do país - Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Natal, Porto Alegre, recife e Salvador.

O coordenador do estudo, professor Wagner Meira, do Departamento de Ciência da Computação, explica que os softwares (programas) especialmente desenvolvidos pela equipe que coordena estão ajudando a verificar como as redes sociais, em especial, têm sido utilizados por políticos dessas 14 capitais para se comunicarem com o eleitorado e a opinião pública.
Meira adianta que no Brasil ainda estamos na “idade da pedra”, se comparado com os Estados Unidos, onde o presidente Barack Obama “inaugurou para o mundo” como fazer uso da internet, sobretudo das redes sociais, de forma eficaz aos seus projetos de chegar à Casa Branca. O professor lembra que o presidente norte-americano, assessorado por especialistas, não só promoveu com êxito uma arrecadação de recursos financeiros para as duas campanhas que disputou (2008 e 2012) e, ainda, colocou em curso um debate sobre as propostas de governo que o levaram a ser eleito por dois mandatos. Além disso, destaca Meira, Obama ainda mantém em plena atividade a sua participação nas redes. “Ele (Obama) tem 29 milhões de seguidores no twiiter, que é alimentado diariamente, sem perder o contato com a opinião pública e aqueles que o elegeram”, destaca o professor.

Aqui como lá

Essa experiência de Barack Obama, no que se refere às estratégias de marketing para melhor se comunicar com o eleitorado por meio das redes sociais, promete ter similar – ainda que o assunto esteja sendo tratado , por equanto, com cautela por envolver a vinda do principal colaborador do presidente norte- americano David Axelrod, um ex-alto funcionário da Casa Branca e conselheiro político das campanhas presidenciais de Obama.

Os responsáveis por essa articulação para trazer Axelrod é o marqueteiro do PSDB, Renato Pereira, que conta com a ajuda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal cabo eleitoral da candidatura a presidente da República do senador Aécio Neves. FHC é considerado peça importante para execução desse projeto porque tem proximidade com uma liderança também de peso no Partido Democrata, mesmo partido de Obama, que é o também ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton.

A ideia dos tucanos é trazer não só Axelrod , mas também Antonio Villaraigosa, prefeito de Los Angeles e uma das estrelas em ascensão do Partido Democrata dos Estados Unidos, para orientar Aécio nessa fase da pré-campanha, sobretudo na internet. Essa informação vazou para a imprensa no final do mês passado e foi divulgada por um jornal paulista. Embora sem confirmação oficial, não houve até hoje nenhuma declaração também oficial descartando a colaboração de Axelrod e Villaraigosa na estratégia do senador Aécio Neves para viabilizar sua candidatura em 2014.

Lugar de debate

Para o professor Wagner Meira, a iniciativa do marqueteiro dos tucanos, com a ajuda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, poderá se tornar importante se, fechado o acordo para a vinda Axelrod e Villaraigosa, eles conseguirem ajudar a criar no Brasil um jeito de fazer das redes sociais no Brasil lugar para “um discurso propositivo”.

Meira coordena esse estudo sobre o uso das redes sociais pelos políticos no Brasil desde 2010, chamado de Observatório, ora acrescido “das Eleições”, durante o período das campanhas, e passada a disputa de “Observatório dos Governos”. De acordo com o professor da UFMG, no Brasil, ainda o debate político nas redes sociais não passa de “um discurso reativo”. Ele explica que isso significa dizer que os internautas , leia-se eleitores e os próprios políticos, usam esses espaços para reagir a temas geralmente propostos pela mídia convencional.

A partir dessa constatação, Meira observa que, de um lado, ficam os internautas/eleitores - em sua maioria, fazendo piada, troça e utilizando do escárnio para tratar de assuntos envolvendo políticos e suas ações-, e as lideranças “tentando responder ou se ausentando do debate”. Essa realidade foi verificada em pesquisa do Observatório das Eleições, divulgadas no final do ano passado (veja matérias abaixo).

Internautas usam redes sociais para atacar candidatos em 14 capitais do país
 
Brasileiros ainda estão usando pouco o Facebook e o Twitter para o debate político
 
Outra lacuna que o professor diz que deveria ser preenchida pelos políticos é a continuidade de suas postagens nas redes sociais, passado o período eleitoral, a exemplo do que faz Obama, com a ajuda de uma equipe de assessores. “Hoje, se você fizer uma busca nas redes sociais sobre a presença dos políticos vai perceber que eles quase que estão completamente ausentes, com postagens raras e assuntos nem sempre relevantes”, assinala o professor.