Jornal Estado de Minas

Comissão de Direitos Humanos dá apenas seis minutos para a livre expressão

Diante de novos protestos, Feliciano volta a impedir a presença do público em reunião da Comissão de Direitos Humanos, um dia depois de ter prometido reabrir os encontros. Deputado deve vir a Belo Horizonte neste fim de semana

Amanda Almeida, Adriana Caitano e Daniel Camargos
Manifestantes pró e contra Feliciano foram contidos por seguranças da Câmara e houve empurra-empura - Foto: Luís Macedo/Agência Câmara
Embora tenha se comprometido a manter abertas ao público as reuniões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) voltou a fechar a sessão ontem. Em meio ao tumulto provocado por manifestantes, o parlamentar disse que a comissão vai de “vento em popa”. A sessão do colegiado começou parcialmente aberta ao público. Quando o deputado entrou no plenário, grupos a favor e contra Feliciano iniciaram uma barulhenta disputa de palavras de ordem. O pastor, acusado por movimentos sociais de homofobia e racismo, chegou a pedir respeito aos que protestavam contra sua permanência no comando do colegiado: “Peço que vocês se comportem com a educação que teriam se estivessem em casa”, disse. Seis minutos depois, o deputado suspendeu a sessão, que foi reaberta em outro plenário, apenas para parlamentares, assessores e jornalistas.
A deputada Érika Kokay (PT-DF) tentou obstruir a reunião, alegando que o PT não vê legitimidade na eleição de Feliciano para o comando do colegiado. “(A defesa dos) direitos humanos pressupõe uma cultura de paz”, protestou ela, acrescentando que pediu quatro vezes para falar, mas a palavra não lhe foi concedida pelo pastor. O deputado Takayama (PSC-PR) a acusou de má-educada e Henrique Afonso (PV-AC) a chamou de “intolerante”.

Na semana passada, para evitar os protestos que se repetem desde sua posse no comando da comissão, Feliciano aprovou requerimento fechando por tempo indeterminado as reuniões da comissão. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), porém, derrubou a proibição na terça-feira. Ficou acertado, no entanto, que diante de tumultos as reuniões poderiam ser fechadas. Durante a troca de plenário ontem, o pastor sustentou que a medida não fere o acordo fechado com Alves e líderes partidários. Entretanto, alguns parlamentares reclamaram que nem sequer conseguiram entrar na comissão. “A segurança está impedindo até deputado de entrar. É o fim da picada”, disse Chico Alencar (PSOL-RJ), antes da transferência do encontro.

Ontem, apareceu mais um vídeo com declarações polêmicas do pastor. Em culto, Feliciano diz que o compositor Caetano Veloso vendeu 1 milhão de cópias de um CD depois de levá-lo à Mãe Menininha do Gantois, que o religioso chamou de “Patuá”, relacionando-a ao “diabo”. Caetano reagiu pelo Twitter com um “#ForaFeliciano”.

Belo Horizonte

No fim de semana, Feliciano tende a cumprir a rotina de protestos que vem enfrentando, desta vez em Belo Horizonte. Ele estará na capital mineira para pregar na Igreja do Evangelho Quadrangular, no Templo dos Anjos, no Bairro Alto Barroca. A informação foi divulgada pela emissora de rádio 107 FM, ligada a grupos evangélicos. Após a divulgação, organizações que apoiam os movimentos de defesa dos direitos dos homossexuais – um dos principais alvos de críticas nas pregações de Feliciano – começaram a preparar um protesto na porta do templo.

“Não vamos confirmar (a presença de Feliciano) para evitar confusão”, disse um dos pastores do templo, Marcos Guzmão, que fez questão de ressaltar que o convidado foi “o pastor e não o deputado”. A programação das pregações permaneceu no site da rádio durante todo o dia de ontem. Serão três cultos: sábado às 18h30 e domingo às 8h e às 17h30.

O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Carlos Magno, afirma que a decisão do movimento é protestar para impedir que Feliciano permaneça na Presidência da CDHM. “Não podemos aceitar alguém com histórico de homofobia, racismo e de declarações contrárias aos direitos humanos no cargo que ele ocupa”, afirmou Carlos Magno.

A estratégia dos protestos ainda será definida pela ABGLT e entidades parceiras em Belo Horizonte. Até o fim da tarde de ontem, mais de 500 pessoas haviam confirmado presença em uma comunidade do Facebook criada para organizar a manifestação.

Feliciano é presidente da Igreja Catedral do Avivamento, que não tem templo em Belo Horizonte. A Igreja do Evangelho Quadrangular, onde ele vai pregar, é comandada pelo deputado federal licenciado pastor Mário Oliveira (PSC-MG). O suplente de Mário, que ocupa o cargo na Câmara dos Deputados, é seu sobrinho Stefano Aguiar (PSC-MG), também pastor. “É normal que os pastores fora de série, como o Feliciano e o Silas Malafaia, sejam convidados para pregarem em outras igrejas”, diz o pastor Guzmão.