Brasília – O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), optou por não se defender da acusação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de que prometeu absolvê-lo no processo do mensalão, em encontro ocorrido há mais de dois anos, antes de ser nomeado para uma vaga no STF. No julgamento, Fux votou pela condenação do petista a 10 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. O ministro chegou por volta das 14h15 de ontem à Suprema Corte e evitou falar com os jornalistas. Limitou-se a dizer, por meio da assessoria do tribunal, que “ministro do Supremo não polemiza com o réu”.
No intervalo da sessão plenária, Fux fez uma breve declaração aos jornalistas. “Eu já me pronunciei através da imprensa do tribunal no sentido de que um ministro do Supremo não controverte com o réu do processo. Essa é uma regra inerente ao ofício. Isso é tudo o que eu tenho a dizer”, frisou o ministro.
Para Gurgel, as declarações do ex-ministro, apontado como chefe da quadrilha do mensalão, não são dignas de credibilidade. “São denúncias que, em princípio, para mim não merecem qualquer crédito. A história do ministro Fux é uma história de honradez. E o mesmo não se pode dizer de quem o acusa”, afirmou o procurador-geral, em entrevista antes do começo da sessão de ontem do STF.
Exemplar O procurador-geral avalia que José Dirceu busca, ao atacar o ministro Fux, desmerecer o julgamento realizado pela Suprema Corte, no qual 25 réus acabaram condenados. “Acho que mais uma vez o que se procura é prejudicar a honorabilidade do julgamento realizado pelo Supremo. Vai-se continuar sempre tentando mostrar ou acusar o julgamento de ter sido tendencioso, quando, na verdade, tivemos um julgamento exemplar”, afirmou Gurgel. “É preciso que condenados deixem de mostrar a postura arrogante que têm mostrado nos últimos tempos”, acrescentou.
Procurado para comentar o assunto, o ministro do STF Marco Aurélio Mello lamentou a declaração de Dirceu pelo fato de, segundo ele, atingir os magistrados de forma geral. “É ruim para toda a magistratura. É o que eu digo sempre: algo que alcance – precedente ou não – um integrante da magistratura coloca em xeque o Judiciário.” Os ministros do Supremo Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski preferiram não comentar as acusações feitas por Dirceu. Já o decano do STF, Celso de Mello, disse no começo da tarde de ontem que não havia lido a reportagem, mas defendeu o direito de manifestação de todos. “Qualquer pessoa tem o direito de se manifestar, independentemente da veracidade do conteúdo da sua fala.”