A partida mais importante é a que se joga hoje na Venezuela, mas outras eleições, marcadas para este ano, dirão para que lado se inclina o pêndulo da política sul-americana. Aparentemente, não há vento liberal ameaçando a hegemonia dos governos de centro-esquerda, chamados de populistas pelos adversários, responsáveis por mudanças econômicas e sociais importantes para uma região que já foi sinônimo de subdesenvolvimento.
O pleito de hoje na Venezuela é uma esquina histórica. Dirá se o chavismo sobreviverá sem Chávez. Delegações de mais de 150 países estão em Caracas para observar o pleito e atestar sua lisura, o que é fundamental para a estabilidade democrática do país. A imprensa internacional montou aparato para uma grande cobertura. A eleição ocorre sob a sombra forte de Chávez, num país ainda comovido com sua morte. Sinal disso é a palavra de ordem dos chavistas: “Chávez, te juro, meu voto é pra Maduro”. Em vida, ele apontou como sucessor seu vice e agora candidato, Nicolás Maduro. Ele não tem o carisma do líder morto, mas a sagração o popularizou. Réplicas de seu bigode, aos milhões, tornaram-se o principal ícone da campanha. O candidato da oposição, Henrique Caprilles, que concorre pela segunda vez, apega-se ao fato de que “Maduro não é Chávez” e à existência, como aqui, de um bloco de eleitores que não é apaixonadamente a favor nem contra qualquer um dos polos. Caprilles levou mais de 1 milhão às ruas e prometeu aumento geral de salários. Maduro respondeu com uma maré vermelha, dizendo que “Chávez vive, a luta continua”. A campanha, marcada pelos insultos eleitorais de sempre, durou apenas 10 dias, o que favoreceu o candidato oficial. Segundo as pesquisas locais, ele encerrou a semana com cerca de 10 pontos de vantagem.
Os aliados regionais do chavismo ajudaram como puderam. Maradona subiu ao palanque e chorou. O governo Dilma mantém a sobriedade, mas Lula enviou um vídeo de apoio a Maduro. As relações políticas com o Brasil, por força dos interesses econômicos bilaterais envolvidos, dificilmente seriam afetadas no caso de mudança de comando na Venezuela. O ingresso do país no Mercosul parece irreversível, nenhum governo o recusaria. E, para o Brasil, apesar das críticas, abriu um grande mercado importador. Mudança drástica haveria na relação com os países “amigos”, tais como Cuba e Bolívia, entre outros, que se tornaram muito dependentes dos favores venezuelanos. Caprilles deixou claro que acabaria com eles, se eleito. Mas, com a eleição transformada em julgamento de Chávez, dificilmente o chavismo perderá hoje. E, com isso, o pêndulo fica onde estava.
Paraguai
No próximo domingo, o Paraguai é que elege seu presidente, depois do impeachment de Fernando Lugo pelo Congresso, no ano passado. Considerando que houve ali um golpe, os demais presidentes do Mercosul suspenderam o Paraguai do bloco. A posse do novo presidente abrirá caminho para a reintegração, já adiantou o chanceler Antônio Patriota. Há cinco candidatos inscritos numa corrida liderada pelo estreante e empresário milionário Horário Catres, do Partido Colorado, conservador e oligárquico, que mandou no Paraguai por 60 anos, até a eleição de Lugo. Como em segundo lugar está outro candidato conservador, Efrain Allegre, do Partido Liberal, o Paraguai tende a seguir na contra-corrente, como a Colômbia, em relação à maioria de seus vizinhos.
Chile
A eleição presidencial no Chile, que não adota a reeleição, será em novembro, mas a campanha já está nas ruas. Ali, a novidade é a provável volta da ex-presidente Michelle Bachelet, do Partido Socialista, ao Palácio La Moneda, derrotando os conservadores que, em 2010, pela primeira vez depois do fim da ditadura, desalojaram a coalizão de esquerda do governo, elegendo o presidente Sebastián Piñera. Com a passagem exitosa por um organismo internacional, o ONU Mulheres, Bachelet ampliou o prestígio interno e ganhou aura de “figura global”. Explorando o mau momento do atual governo, ela acaba de apresentar seu staff de campanha e aparece nas ruas de Santiago em outdoors pregando “mais igualdade, não mais abusos”. Refere-se ao escândalo do momento no Chile, o processo de impeachment do ministro da Educação, Harald Beyer. A Câmara acolheu a denúncia na semana passada, autorizando o julgamento pelo Senado, onde a oposição teria votos para a destituição. Esse processo inédito, embora previsto nas constituições de quase todos os países da região, inclusive na nossa (já pensou se a moda pega?), respingará fortemente nos candidatos de partidos da base de Piñera, Andrés Allamand (RN) e Laurence Golborne (UDI). Com Bachelet eleita, o continente passaria a ter três mulheres presidentes, e o bloco hegemônico ganharia mais um aliado. O pêndulo se moveria à esquerda.
Em 2014… eleições no Brasil. A reeleição de Dilma manteria o pêndulo no lugar. Para os “hermanos”, curioso aqui é que ninguém se declara liberal ou conservador. Todos são progressistas e reformadores.
Hora de enfrentar
Deve ser votado esta semana pela Câmara projeto do deputado Osmar Terra (PMDB-RS) que torna mais rigorosa a Lei Antidrogas em vigor, que é de 2006. De lá para cá, a questão se agravou, com o domínio do crack. A proposta autoriza a internação involuntária de dependentes, a pedido da família ou por iniciativa do Estado. A questão é grave demais para que suas excelências deliberem com a perspectiva eleitoral que tem contaminado tudo.