Desde que o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) assumiu a Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, segmentos da sociedade civil que já se enfrentavam silenciosamente há muitos anos abriram trincheiras barulhentas e passaram a se confrontar em campo aberto com grande repercussão na sociedade. De um lado, evangélicos, setores religiosos, simpatizantes e forças conservadoras cerram fileiras pela legitimidade da escolha do deputado evangélico para chefiar a CDH. Do outro, movimentos sociais em defesa dos homossexuais, dos negros e das mulheres acusam Feliciano de ter cometido crime de racismo e de ser incapaz de cumprir a função de presidente com isenção. Entre fogo cruzado de todos os lados, ambos os campos já propagandeiam vitórias com a polêmica.
O militante do movimento negro e membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (CNPIR) Clédisson Júnior discorda. “As declarações dele têm um cunho racista e extrapolam o direito de liberdade de expressão. Elas vão contra os princípios de igualdade e respeito da Constituição. Mesmo tendo foro privilegiado, ele tem que ser enquadrado por crime de racismo e ser julgado”, pontua.
Legitimidade
Gisele Martins, de 20 anos, que frequenta a Igreja Deus É Amor, no Bairro Lagoinha, desde criança, acredita que o pastor deve pedir desculpas a quem se sentiu ofendido, e afirma que ele não é racista e nem homofóbico. “Feliciano me representa. O que ele falou em cultos e no que ele acredita não pode ser misturado com o trabalho que ele faz como homem público. Ele está sendo perseguido porque está falando demais. Mas ele foi eleito pelo povo e eleito também de forma legítima para presidir a comissão. Então, ele tem o direito de estar ali”, sustenta ela.
Presidente do Movimento Popular da Mulher, Bebela Ramos de Siqueira acredita que, por ter um histórico conhecido de preconceito e fundamentalismo religioso, o deputado não está apto a presidir a comissão e discutir os temas que a ela cabem.
Ângela Gomes, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) e membro do CNPIR, interpreta que o fato de Feliciano estar à frente da CDHM constitui uma violação aos direitos humanos. Ela afirma que não se preocupa com os milhares de pessoas que passaram a defender o pastor e destaca que o papel dos movimentos sociais é continuar trabalhando por uma sociedade mais justa e igualitária. “Quem ganha capital político com ideias nazistas, homofóbicas, preconceituosas não pode ser modelo para uma sociedade democrática. Hitler também foi eleito e foi muito popular. Nós temos que denunciar: se tem gente que ganha voto matando trabalhador no campo, eu não voto. Se tem quem ganha voto com homofobia e racismo, não votem nessas pessoas”, pede.