Jornal Estado de Minas

História de Brizola à espera de resgate no Rio de Janeiro

Pedetistas e amigos lamentam a permanência de documentos do político em guarda-móveis e apostam no fim da disputa em torno do espólio para garantir a preservação do material

Alessandra Mello
Prédio em estado precário abriga documentos de Brizola, sob os cuidados de Manoel Gonçalves. Ele admite que o local não é apropriado - Foto: Túlio Santos/em/d.a Press Integrante do Grupo dos Doze, movimento de apoio ao governo de João Goulart, deposto em 1964, o ex-deputado federal Genival Tourinho, filiado histórico do PDT, lamenta a situação do acervo do ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, revelada pelo Estado de Minas na edição de ontem. Há cerca de cinco anos, cartas, documentos, livros, fotografias e objetos pessoais de Brizola estão em um guarda- móveis no Bairro Inhaúma, subúrbio da capital fluminense, em um prédio sem nenhuma condição para abrigar documentos valiosos de um dos maiores líderes trabalhistas brasileiros, falecido em 2004, aos 82 anos. “O tratamento dado à sua memória não é condizente com a grande liderança que ele foi. Brizola foi o primeiro governador a peitar os americanos”, destaca Genival, que militou ao lado do político e de outro pedetista histórico, Darcy Ribeiro, contra o regime militar.
A esperança dos amigos e brizolistas é que o fim das disputas em torno do espólio do ex-governador possa resolver o destino do acervo, que teria, entre suas preciosidades, cartas e documentos inéditos de fatos históricos como a Rede da Legalidade, organizada por Brizola do Rio Grande do Sul para impedir a deposição de João Goulart. Um acordo na Justiça em torno do espólio teria sido selado em dezembro do ano passado e o processo arquivado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

A divulgação do local onde está guardado o acervo desagradou à família do líder trabalhista. O guarda-móveis na entrada da Favela da Galinha fica em um prédio com janelas quebradas e sinais de infiltração nas paredes. Ao lado da construção, passa um córrego não canalizado, tomado por lixo e esgoto. O guardião dos documentos é Manoel de Oliveira Gonçalves, dono de uma transportadora e guarda-volumes. Ele admite que o estabelecimento não é apropriado para a manutenção do acervo.

A permanência dos documentos em local precário se dá em meio à disputa pelo espólio político do líder pedetista travada pelos netos do ex-governador que ocupam cargos eletivos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e aliados do ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (RJ), reeleito presidente do PDT. Procurados pela reportagem, os netos do ex-governador, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT-RS) e o vereador Leonel Brizola (PDT-RJ), irmãos do ex-ministro do Trabalho Brizola Neto (PDT_RJ), não quiseram dar entrevistas. Lupi também não quis falar sobre o assunto. Segundo sua assessoria, a situação do acervo é de responsabilidade da família e o partido não pode interferir.

O acervo de Brizola pertence ao único filho vivo do ex-governador, João Otávio Brizola, responsável na Justiça pelo inventário do espólio do pai, e aos filhos de Neusinha Brizola, também filha do ex-governador, falecida em 2011. Eles são donos também dos direitos de imagens e da história de Brizola, segundo apurou a reportagem. O terceiro filho de Brizola, José Vicente, morto em 2012, teria vendido sua parte para os irmãos. No guarda-volumes em Inhaúma, o material só pode ser visitado ou retirado com autorização de João Otávio, que reside no Rio de Janeiro e em Montevideú, no Uruguai.