Brasília – O anúncio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de que não vai concorrer ao governo de São Paulo em 2014, abrindo caminho para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, traduz a estratégia de velhos caciques, em especial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: apostar no fator “novidade” associado a um forte cabo eleitoral. A ideia é fazer com que candidatos chamados no jargão político de “postes” se iluminem. Lula foi bem-sucedido nas últimas duas tentativas. Em 2010, conseguiu eleger presidente da República pelo PT a então pouco conhecida titular da Casa Civil, Dilma Rousseff. No ano passado, contrariando os prognósticos, levou o correligionário Fernando Haddad do Ministério da Educação à Prefeitura de São Paulo. Antes mesmo de Lula, em 2008, o então governador de Minas, Aécio Neves, aliou-se ao PT para eleger Marcio Lacerda (PSB), que nunca tinha disputado uma eleição e era considerado um nome técnico.
O modelo foi repetido pelo governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que, também em 2012, transformou seu secretário de Governo, Geraldo Julio, prefeito do Recife. A iniciativa ainda vingou na Região Norte. No Acre, os irmãos petistas Tião e Jorge Viana, respectivamente governador e senador, conseguiram eleger o prefeito Marcus Alexandre (PT), que nem sequer morava na capital, Rio Branco. Agora, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), quer aplicar a fórmula em seu próprio poste: o vice-governador peemedebista Luiz Fernando Pezão, que disputará o Executivo estadual.
Segundo o cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Rui Tavares, a tendência nasceu da visão de Lula de que os tradicionais nomes do PT estavam desgastados ou não apresentavam apelo para conquistar o eleitorado. “Como a gente tem problemas sérios com corrupção, existe uma imagem ruim em relação aos políticos de carreira. A percepção do Lula, de trazer nomes com perfil mais técnico, foi que essa seria uma forma de reduzir o impacto desse cansaço com a política”, explica.
Para o professor Rodolfo Teixeira, especialista em sociologia política, é preciso levar em conta que os velhos caciques têm, eles próprios, sofrido derrotas. “No caso do José Serra, o fato de ele ter dito que não deixaria a Prefeitura de São Paulo para disputar a Presidência da República e o sucessor, Gilberto Kassab, ter sido muito mal avaliado foram determinantes”, ressalta o especialista. Teixeira lembra ainda que, em alguns casos, o poste nem sempre é sinônimo de novidade, apesar da imagem vendida ao eleitor. “Dilma Rousseff representava justamente a continuidade do governo Lula.”
Ponderações Com pouca visibilidade em São Paulo e com título eleitoral registrado ainda no Pará, Alexandre Padilha é a nova aposta de Lula. Algumas questões, no entanto, ainda precisam ser avaliadas. Na tarde de quinta-feira, o ex-presidente se reuniu com lideranças e prefeitos paulistas. Na ocasião, ponderou questões como a visibilidade do ministro e os tendões de aquiles em sua gestão à frente do Ministério da Saúde, que podem ser usados por adversários. Também foram analisadas as possíveis alianças para 2014 e a aceitação de Padilha na base aliada em São Paulo. Lula espera bater o martelo em, no máximo, três meses, já que Padilha tem até setembro para trocar o domicílio eleitoral.
Padilha, assim como Dilma Rousseff em 2010, nunca disputou eleição para cargos eletivos, mas é definido por petistas paulistas como um “poste iluminado”. Apesar de ser de Santarém, no Pará, tem história de militância em São Paulo. E, embora esteja hoje à frente de um ministério complicado, teve bom desempenho na Secretaria de Relações Institucionais na gestão Lula. Na avaliação de petistas paulistas, ele conta com a simpatia dos militantes e é carismático. “A Dilma tinha mais um perfil de gestora do que de candidata. A simpatia e o envolvimento com as questões do país tornam mais natural pensar em Padilha como candidato”, avalia um parlamentar de São Paulo.
Se o ministro poderá contar com a ajuda federal caso se lance candidato em São Paulo, no Rio, Luiz Fernando Pezão, poste de Sérgio Cabral, terá a máquina administrativa estadual a seu favor. O governador Sérgio Cabral aposta todas as fichas no vice, e acredita que a organização da Copa do Mundo de 2014 será determinante para o resultado nas urnas. Tanto que Cabral está disposto a se desentender com o PT, que deve lançar o senador Lindbergh Farias ao governo fluminense.
À sombra dos padrinhos
Confira casos de políticos praticamente desconhecidos pelo eleitorado que conseguiram ser eleitos graças ao apoio de caciques
» Dilma Rousseff
De candidata inexpressiva que patinava nas intenções de voto no início da campanha de 2010, Dilma contrariou as projeções pessimistas. Lula bancou a escolha e a pupila do petista bateu o tucano José Serra com 56% dos votos válidos.
» Marcio Lacerda
Sem nunca ter disputado uma eleição, Lacerda (PSB) foi alçado a candidato a prefeito de Belo Horizonte em 2008 – e venceu –, numa insólita aliança de partidos que incluía o PSDB de Aécio Neves e o PT de Fernando Pimentel. Em 2012, foi reeleito sem o apoio do PT.
» Fernando Haddad
Escolhido por Lula, Haddad deixou o Ministério da Educação para se lançar candidato a prefeito de São Paulo. Mesmo sem nunca ter disputado cargo eletivo e sem história de militância no PT, Haddad conseguiu, na véspera do primeiro turno, um empate técnico entre os três principais candidatos. Também contrariou os prognósticos e foi eleito.
» Geraldo Julio
Apadrinhado do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, o atual prefeito do Recife conseguiu se eleger graças ao apoio maciço do aliado.