Jornal Estado de Minas

Aécio e Lacerda são citados em cartas da embaixada americana

O potencial de Aécio como presidenciável e a eleição de Lacerda estão nas cartas da embaixada americana divulgadas no Wikileaks

Jorge Macedo - especial para o EM
Juliana Cipriani
Detalhes da política mineira, considerados importantes o suficiente para influir na conjuntura nacional, são encontrados em alguns dos telegramas escritos por diplomatas dos Estados Unidos no Brasil que fazem parte de um acervo de milhares de documentos diplomáticos vazados pelo Wikileaks (organização transnacional que se dedica a divulgar na internet dados sigilosos, em especial os da diplomacia). Agora disponíveis para busca no Projeto PlusD, Bibilioteca de Documentos Diplomáticos dos EUA – que pode ser acessado por meio do endereço https://search.wikileaks.org/plusd/, os relatos colocam o senador Aécio Neves (PSDB-MG) como nome certo para a disputa pela sucessão da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014. Até mesmo a polêmica dobradinha entre PT e PSDB, articulada por ele para eleger o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), em 2008, foi publicada de forma minuciosa nos arquivos.

Conhecido como Cablegate, o vazamento de mais 250 mil documentos diplomáticos escritos entre 2003 e 2010 traz uma série de informações e impressões sobre o que ocorria no Brasil ao longo desse período. Em um deles, de dezembro de 2009, a conselheira da embaixada dos EUA em Brasília, Lisa Kubiske, relata ao Departamento de Estado a desistência de Aécio em disputar as prévias presidenciais com o colega tucano José Serra. A possibilidade de o mineiro ser vice do ex-governador paulista, mesmo descartada na época pelo agora senador, é colocada pela conselheira como um cenário de possível vitória dos tucanos em 2010.

Segundo Kubiske, não seria prudente ignorar a possibilidade de Aécio ser vice e o potencial da chapa pura poderia devolver o poder ao PSDB. Como armas do tucano mineiro, a diplomata cita seu carisma jovem, o parentesco com o finado avô, o presidente da República Tancredo Neves, e a popularidade dele em Minas, segundo colégio eleitoral do país. A articulação seria a base de um acordo para que o PSDB apoiasse Aécio como candidato a presidente em 2014.

Antes disso, documento enviado por Kubiske em setembro de 2008 coloca Minas Gerais e São Paulo como os estados com maior potencial para afetar a situação política nacional. No texto aos norte-americanos, um relato sobre uma “aliança controversa informal” entre PT e PSDB. “Esta aliança PT-PSDB é importante porque esses partidos são tradicionais rivais políticos em nível nacional”, destacou ela. Naquela época, a expectativa era de que o sucesso da dobradinha potencializasse Aécio como candidato ao Palácio do Planalto em 2010. Na avaliação da embaixada, o então governador se esforçou para “construir sua reputação como um político que pode trabalhar com os rivais para fazer boas coisas”.

Nos mesmos escritos sobre a eleição em BH, o atual ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, é descrito como alguém que “pode ter cometido um grande erro”, por não consultar os então ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), que teriam ficado “furiosos” com ele. O racha do PT mineiro também é relatado.

DILMA E LULA Parte do material já conhecido inclui informações sobre a presidente Dilma Rousseff (PT), monitorada mesmo antes de se tornar a maior autoridade do Brasil, e sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda nos relatos da história recente do país, o mensalão chamou a atenção da diplomacia americana. Assuntos como o apagão sofrido pelo país em 2009 e o câncer que acometeu a presidente Dilma são outros temas das correspondências enviadas aos EUA.

Os arquivos brasileiros estão entre milhares de informações vazadas pelo Wikileaks, conhecido por divulgar, desde meados de 2010, informações confidenciais de governos e empresas, especialmente os diplomáticos, conseguidos com o trabalho de hackers. O fundador e porta-voz do site, Julian Assange, está asilado na embaixada equatoriana em Londres desde o ano passado, para evitar ser extraditado para a Suécia, onde pesam contra ele acusações de supostos crimes sexuais. Assange, que teme ser extraditado da Suécia para os Estados Unidos, se diz inocente e atribui as acusações a uma conspiração devido a seu trabalho no Wikileaks.