O primeiro projeto suspende a validade de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) de 1999, que impede que psicólogos tratem homossexuais no intuito de curá-los de uma possível “desordem psíquica”. O texto controverso, de autoria do presidente da bancada evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO), tramita desde 2011 na Casa. Chegou a passar pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), mas, antes de ter o parecer aprovado, foi para a CDHM, a pedido de parlamentares contrários. Com a nova composição do colegiado, porém, a matéria caiu nas mãos do pastor Anderson Ferreira (PR-PE), que emitiu parecer favorável, na semana passada.
Leia Mais
Presidente da Câmara pode rever triagem de Feliciano para barrar protestosFeliciano restringe reunião de comissão a evangélicosPRB quer Marco Feliciano e aposta em efeito "Tiririca" em 2014Marina Silva defende deputado pastor Marco FelicianoVotação do projeto da "cura gay" é adiada para próxima semanaConselho de psicologia critica discussão de 'cura gay'Tucanos pressionam deputado a retirar da pauta projeto que trata da "cura gay"Batalha psicológica na comissão comandada por Marco FelicianoPauta de Feliciano em Comissão dos Direitos Humanos instala a revoltaA conselheira do CFP Cynthia Ciarallo lembra que, em 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista internacional de doenças mentais. “O psicólogo não pode tratar uma pessoa com um viés heteronormativo, estabelecendo que ser homossexual é um desvio sem haver qualquer respaldo científico e técnico para isso”, comenta. “Se essas pessoas sofrem, é porque há padrões culturais estabelecidos na sociedade que as fazem crer que estão fora de contexto”, acrescenta.
Heterossexuais
Entre os outros projetos pautados por Feliciano, estão o que penaliza a discriminação contra heterossexuais, de autoria do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e o que torna crime inafiançável discriminar alguém pela raça, cor, religião, origem nacional ou étnica, idade ou orientação sexual. O relatório dos dois temas é da deputada Erika Kokay (PT-DF). No primeiro caso, o parecer foi pela rejeição da proposta; no segundo, pela aprovação, apesar de haver votos em separado de parlamentares que querem retirar a orientação sexual da lista de punições. Como Erika saiu oficialmente da CDHM, na reunião de quarta-feira, Feliciano indicará, com respaldo regimental, outros relatores, que devem mudar o entendimento da petista. Há ainda a possibilidade de os votos em separado contra o relatório da deputada serem aprovados.
Erika Kokay promete pedir formalmente à Presidência da Câmara que retire da comissão todos os projetos que tratem de questões homoafetivas, sob o argumento de que o atual colegiado “não tem isenção para tratar do tema”. Ela e outros seis integrantes da comissão deixaram a CDHM em protesto à permanência de Feliciano no comando. Com essa debandada, porém, restaram apenas os aliados do pastor, a maioria evangélica. “Saímos por não reconhecer ali um espaço de debate livre e ficar legitimaria os feitos homofóbicos do grupo”, justifica Erika, que critica a pauta divulgada pelo pastor. “Ele não fez isso no começo porque havia uma instabilidade. Mas agora a máscara começa a cair para mostrar-lhe a verdadeira face homofóbica.”