Jornal Estado de Minas

Inflação domina palanque de críticas a presidente Dilma

Crítica à alta dos preços é mote do discurso da oposição na festa sindical do 1º de Maio em São Paulo. Aécio Neves acusa governo de ser conservador e defender o empresariado

Maria Clara Prates
O palco das comemorações do Dia do Trabalho serviu novamente de lugar para a troca de acusações entre governo e oposição, sendo que o alvo da vez foi a inflação crescente no país. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) pôs o dedo na ferida e acusou a administração petista de ser “leniente” com a alta dos preços nos últimos meses. “Desde que votou contra o Plano Real, apresentado pelo governo do presidente Fernando Henrique, e a partir do momento em que começa a governar, o governo não tratou com aquilo que chamamos de tolerância zero a inflação. Não há uma meta real, a meu ver, buscada pelo governo”, criticou Aécio. O senador participou da festa do trabalhador na Praça Campo de Bagatelle, em Santana, Zona Norte de São Paulo, organizada pelas centrais sindicais Força Sindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Nova Central.
  Subindo um pouco o tom, o presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, anunciou o início de uma campanha para garantir que os salários sejam reajustados automaticamente toda vez que a inflação alcançar 3%. "Nossos sindicatos, a partir de hoje, começam mobilizações e assembleias, negociação e greves", avisou do palanque. O sindicalista aproveitou a ocasião para reforçar as críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff. Para ele, Dilma é mais conservadora do que Lula. "O governo Lula tinha todo um atendimento aos trabalhadores. O governo Dilma tem uma relação com o setor patronal. Veja, por exemplo, no caso da Previdência. No ano passado, a Dilma desonerou a folha em R$ 18 bilhões. Enquanto isso, nós estamos reivindicando o fim do fator previdenciário, que custaria R$ 3 bilhões. Fica muito claro de que lado está o governo Dilma", comparou.

Apesar de não compartilhar a proposta de gatilho para combater a alta de preços, o senador Aécio Neves alertou que a inflação ameaça conquistas do povo brasileiro. “Hoje, temos aí, na faixa de quem recebe até dois e meio salários mínimos, e mais de 90% dos empregos gerados nos últimos 10 anos estão nessa faixa, o impacto da inflação de alimentos já está em torno de 14%, nos últimos 12 meses. E o setor de alimentos consome algo em torno de 30% da renda dessas famílias. Portanto, a maior das conquistas dos brasileiros está sendo colocada, hoje, em risco pela leniência do governo do PT com a inflação”, pontuou o senador, pré-candidato à Presidência da República. Aécio fez questão de ressaltar que, “ao longo dos últimos 20 anos, o Brasil vem avançando e crescendo não por obra de um governante ou de um partido político, mas pela luta de seus trabalhadores”.

Vigilante O senador tucano tocou ainda em outros pontos espinhosos para o governo federal como a queda de braço entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso e, ainda, a repercussão negativa à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, que retira o poder de investigação do Ministério Público. “Estaremos vigilantes, acima dos partidos políticos, para impedir qualquer ataque àquela outra grande conquista dos brasileiros, que foi a democracia, a liberdade. Sempre que quiserem atacá-la, cerceando, por exemplo, as atribuições do Supremo Tribunal Federal, impedindo o Ministério Público de investigar, e inibindo a formação de legendas partidárias fora do guarda-chuva do governo, estaremos firmes e vigilantes porque o Brasil é um Brasil de todos”, desafiou Aécio.

E, para não dizer que não falou apenas sobre política, o tucano saudou a classe trabalhadora com um convite: “Vamos juntos fazer o Brasil retomar o seu crescimento, qualificando sua mão de obra para que não sejamos vítimas da importação de mão de obra estrangeira para suprir a baixa qualificação da nossa. Isso é responsabilidade de governo e estaremos atentos para cobrar”.

Por sua vez, Paulinho afirmou que a Força Sindical não é aliada nem oposição ao governo Dilma, mas que não está satisfeita. "Como o governo vem fazendo muito pouca coisa para os trabalhadores e muito para o empresariado, cabe a nós puxar um processo de crítica e de insatisfação com o governo", argumentou. Para o deputado, com a atuação de seu governo, Dilma deve favorecer o apoio a candidatos de oposição nas próximas eleições. (Com agências)