Baere, então tenente do 1º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, contou neste sábado (4) ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque ao avião que transportava o vice-presidente. Baere e três colegas se recusaram a cumprir a missão e pediram para não serem escalados. "Pedimos que ele não nos escalasse porque entramos nas Forças Armadas para defender a Constituição e não agredi-la."
O plano acabou não sendo colocado em prática, mas Baere passou a ser perseguido e foi punido três anos depois, já durante a ditadura, instituída pelo golpe de 31 de março de 1964. "Fui sumariamente expulso, após ficar 50 dias incomunicável na prisão policiado na porta por um oficial portando metralhadora, como se fosse um marginal de alta periculosidade", afirmou.
Durante a audiência pública promovida neste sábado (4), a CNV ouviu depoimentos de vários militares que se opuseram ao golpe e foram punidos. Em 25 de março daquele ano, sete dias antes da deposição de Goulart, o fuzileiro naval Paulo Novais Coutinho foi enviado ao Sindicato dos Metalúrgicos, no centro do Rio, com ordens para dispersar uma reunião da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais considerada ilegal pelo comando da Marinha. "Eu era da Companhia de Polícia e fui, em um pelotão de 39 homens, para reprimir a reunião. Mas a assembleia estava apoiando Goulart e, em vez de combater os colegas, colocamos as metralhadoras no chão, entramos no sindicato e apoiamos o movimento", narra.
Coutinho acabou preso por 9 meses e expulso por indisciplina. "Só consegui voltar à Marinha em 1989, mas até hoje somos vistos com preconceito", diz.