O projeto foi apresentado por um dos líderes do movimento, Sargento Rodrigues (PDT), eleito deputado estadual no ano seguinte à greve e que exerce seu quarto mandato na Assembleia. Na justificativa da matéria, o parlamentar alega que a manifestação foi feita pela valorização da categoria e por um salário mais justo, e portanto, “a inclusão nos quadros do Corpo de Bombeiros Militar dos praças da Polícia Militar em virtude da participação no movimento reivindicatório de 1997 não se coaduna com o regime democrático em que vivemos”.
O deputado lembra ainda que a Lei Federal 15.505/11 concede a anistia de fato a policiais e bombeiros punidos por participar de movimentos grevistas em Alagoas, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Minas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal. A anistia vale para greves deflagradas entre 1º de janeiro de 1997 e 11 de outubro de 2011 – data de publicação da lei. O projeto apresentado pelo parlamentar agora apenas reforça a lei federal e obriga o estado a adotá-la em Minas. Segundo ele, baseadas na lei federal, já há três decisões do Tribunal de Justiça Militar (TJM) pela volta de anistiados à PM.
Por meio da assessoria de imprensa, o comando da corporação informou que ainda não tomou conhecimento do projeto e que, por isso, não iria se pronunciar sobre ele.
Um morto
A greve da PM foi motivada por um aumento salarial de 11% concedido pelo então governador Eduardo Azeredo (PSDB) aos oficiais (tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel), em detrimento dos praças (soldado, cabo, sargento e subtenente). A reação à medida do governo foi imediata. No dia seguinte, dois colchões foram queimados num dos dormitórios do Batalhão de Choque. Em 13 de junho, 700 policiais marcharam até a porta do Palácio da Liberdade, até então a sede do governo. De costas para o local, os militares cantaram o hino nacional e se ajoelharam para rezar o pai-nosso.
Começou então a negociação, e na semana seguinte, foi oferecido um abono fixo de R$ 102 reais – que representava um reajuste de até 20% para os salários mais baixos. A proposta foi rejeitada e no dia 24, mais uma vez os militares marcharam até o palácio, numa passeata que terminou com a participação de 4 mil homens da PM e 700 investigadores da Polícia Civil. No local, eles encontraram barreiras formadas por militares do interior. O clima esquentou e os manifestantes se preparavam para invadir o local quando o cabo Valério dos Santos Oliveira, de 36 anos, levou um tiro na cabeça.
O militar havia subido em uma mureta para pedir calma aos colegas, quando foi atingido. Ele morreu quatro dias depois. O disparo foi atribuído ao soldado Wedson Campos Gomes, de 30 anos, condenado a oito anos de reclusão. O militar nunca assumiu a autoria, dizendo que atirou para cima, não contra o colega. A greve foi encerrada dois dias depois, com a elevação do abono fixo para R$ 200.
Código de Ética
Outro projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa altera o Código de Ética da PM para estabelecer que decorridos cinco anos da data da transgressão, o militar sem nenhuma outra punição terá suas penas disciplinares canceladas, sem qualquer registro ou referência a elas no histórico do policial. “Na prática, o militar estadual não vem recebendo esse tratamento, o que impõe a alteração legislativa pretendida, cujo sentido é fornecer redação mais clara ao texto normativo, sem mudança em seu conteúdo”, diz a justificativa do projeto, apresentado pelo deputado Sargento Rodrigues (PDT).