Jornal Estado de Minas

Vereador de BH faz pré-campanha a deputado estadual no Dia das Mães

Candidato a deputado, Wellington Magalhães volta a promover megashow. Desta vez, com a dupla Zezé di Camargo e Luciano

Jorge Macedo - especial para o EM
Alice Maciel
No papel entregue ao cantor Zezé di Camargo para leitura ao final do show, o nome de Magalhães aparece para ser citado nos agradecimentos aos organizadores da festa (no detalhe) - Foto: Maros Vieira/EM/D.A Press
O Dia das Mães no Bairro Santo André, Região Noroeste de Belo Horizonte, foi comemorado ontem com o show da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Quem ofereceu o presente aos moradores foi o vice-presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, vereador Wellington Magalhães (PTN). O evento aconteceu no campo do Grêmio, clube do qual o parlamentar é presidente de honra. Ele conseguiu atrair 6 mil eleitores para a festa, que contou com as ambulâncias do vereador Bim da Ambulância, seu colega de partido. Coincidência ou não, os dois são pré-candidatos a deputado estadual nas eleições do ano que vem.

Durante o show o parlamentar apareceu no canto do palco, apesar de ter negado para a reportagem, por telefone, que estivesse presente. “Nem lá eu fui. Não tenho nada a ver com isso”, disse. No fim do show o cantor Luciano fez um agradecimento especial ao vereador: “A gente agradece de coração ao vereador Wellington Magalhães pela oportunidade para que a gente pudesse cantar com vocês aqui hoje”.

Moradores da região, que participaram do evento, garantiram que quem fez a propaganda da festa foram carros de som dele. “Eu fiquei sabendo porque passou um carro do vereador na minha rua”, contou Marilúcia Coelho. Já Renata Brito soube do show em um supermercado próximo ao campo. Lá, de acordo com ela, informaram que quem estava produzindo a festa era o parlamentar. “Sempre quando tem evento aqui no bairro é ele quem faz”, acrescentou Gisele Medina, outra moradora da região, onde está localizado o escritório parlamentar de Magalhães.

Embora tenha afirmado que não estava presente, o vereador Wellington Magalhães acompanhou tudo de perto - Foto: Marcos Vieira/Em/D.A Press

Os convidados especiais do vereador curtiram o show no camarote – com capacidade para 900 pessoas – com direito a chope, refrigerante e salgadinhos de graça. Na pista, estavam sendo vendidos churrasquinho, feijão- tropeiro, refrigerante e cerveja. Os convites estavam sendo distribuídos gratuitamente na porta, apesar de o site do produtor João Wellington informar que eles teriam de ser trocados por um quilo de alimento não perecível. O empresário é amigo do vereador e  participou também da produção da festa de aniversário de Wellington Magalhães em 2008, que contou com o cantor sertanejo Eduardo Costa. Em 2009, o vereador havia tentado promover outra festa, dessa vez, com a participação de mais um sertanejo, o cantor Leonardo. No entanto, foi impedido pelo Ministério Público (leia Memória).

Segundo a Polícia Militar, foram distribuídos 7,8 mil ingressos para o show de ontem. Noventa policiais garantiram a segurança do evento. Em pesquisa na internet, a reportagem descobriu que o cachê de Zezé di Camargo e Luciano varia de R$ 170 mil a R$ 350 mil. O show começou por volta das 18h30 e terminou às 20h. Às 18h o vereador Bim da Ambulância chegou com sua equipe. Ele disse que foi a convite do produtor João Wellington. “Eu não fui convidado por Wellington Magalhães”, afirmou.

FICHA Há dois anos Wellington Magalhães perdeu o mandato de vereador da capital depois de ser cassado por abuso de poder econômico ao distribuir sopão a pessoas carentes para conseguir votos durante a campanha de 2008 – quando, aliás, conseguiu o título de segundo mais votado nas eleições.

Em 2011, ocupou durante pouco mais de um mês o cargo de vice-diretor-geral da Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais (Ademg) – sendo exonerado depois que o Estado de Minas mostrou a nomeação do ficha-suja para ocupar uma cadeira comissionada no governo mineiro. A partir daí, o então ex-vereador partiu para articulações políticas que o levaram à Presidência do PTN, partido a que havia se filiado havia pouco tempo quando assumiu o comando.

Pela legenda, inscreveu-se para disputar mais um mandato de vereador. Por um descuido do promotor responsável pelo seu caso, o Ministério Público Eleitoral (MPE) deixou vencer o prazo para a impugnação do pedido de registro de sua candidatura sob a alegação de ser um ficha-suja. Para corrigir a falha, o MPE apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mineiro um documento para ser anexado ao seu processo. Mas a estratégia não funcionou.

Dias depois Wellington Magalhães obteve na Justiça a autorização para ser candidato. E, em 7 de outubro, conseguiu 8.436 votos, número que garantiu a ele uma das 41 cadeiras de vereador de Belo Horizonte. Antes mesmo da posse, participou ativamente das articulações para a disputa pela Presidência da Câmara – tendo inclusive seu nome indicado para presidente do Legislativo. Rejeitado pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB), abriu mão de sua candidatura e foi premiado com o segundo cargo mais importante da Mesa Diretora, o mesmo que ocupava quando teve a cassação declarada pela Câmara.