“É uma ação afirmativa que chega com muito atraso”, comenta Carlos Sant’Anna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Os indicadores sociais confirmam as dificuldades da população negra. Só 19,8% das pessoas de 18 a 24 anos que frequentam ou já terminaram o ensino superior são pretas ou pardas. Mesmo assim, esse percentual representa um expressivo crescimento se comparado aos dos anos anteriores. Em 1997, os negros ocupavam apenas 4% das vagas nas universidades. Em 2004, o percentual passou para 10,6%.
Apesar da inclusão proporcionada pelas cotas, o sistema está longe de ser uma unanimidade. O Supremo Tribunal Federal teve de validar a ação afirmativa para evitar questionamentos. Não basta, porém, facilitar o acesso ao ensino superior. É preciso investir em todo o ciclo da educação. (Com RM)
Militares não caçarão negros
O apoio das forças de segurança ao fim da servidão no Brasil é apontado pelos parlamentares, inclusive por representantes das oligarquias escravistas, como mais um ingrediente que torna a abolição irrefreável. Desde que o Clube Militar encaminhou uma moção à princesa Isabel pedindo que o Exército não cedesse mais homens para trabalhar como capitães-do-mato (caçadores de negros fugidos), polícias de algumas províncias vêm diminuindo a repressão sobre os quilombos.
O comunicado enviado a Isabel pelo presidente do Clube Militar, marechal Deodoro da Fonseca (foto), em outubro do ano passado, pedia que o governo imperial “não consinta que os soldados sejam encarregados da captura de pobres negros que fogem à escravidão.” E sentenciava: “É impossível esmagar a alma humana que quer ser livre.”
Os militares assinalaram, ainda, o espírito pacífico “dos homens que fogem, calmos, sem ruído, mais tranquilamente do que os gados que se dispersam pelo campo”. Mesmo assim, o marechal Deodoro assegurou que não deixaria de agir caso o “preto embrutecido pelo horror da escravidão tentasse garantir a liberdade esmagando o branco”.