A mais curta, importante e festejada lei brasileira entrou em vigor ontem. Com 17 palavras organizadas em apenas dois artigos, a Coroa determina o fim da escravidão no Brasil. Depois de três séculos e meio de cativeiro, os negros podem comemorar a tão sonhada liberdade. Com um vestido branco-pérola, a princesa regente, Isabel, assinou o decreto no Paço Imperial, centro do Rio de Janeiro, onde cerca de 10 mil pessoas festejaram o ato.
Nas ruas, estandartes abolicionistas lembraram a luta histórica dos negros que resistiram à escravidão, uma saga marcada por rebeliões, fugas e pela ajuda de muitos que lutaram em favor da causa da liberdade. Muitos heróis foram homenageados: de Zumbi— que liderou o maior dos quilombos brasileiros, ainda no período colonial — a negros anônimos que acionaram com sucesso, nos últimos anos, a Justiça para reivindicar suas alforrias.
Depois de assinar o decreto, batizado de Lei Áurea, que levou o número 3.353, a princesa Isabel travou uma rápida conversa com o barão de Cotegipe, um dos mais ferrenhos opositores da abolição. Ao senador demitido por ela do cargo de presidente do Conselho de Ministros, Isabel teria perguntado o que ele achava do gesto do governo de sancionar a lei. O aristocrata sentenciou: “Redimiste, sim, Alteza, uma raça; mas perdeste vosso trono.”