A época do voto de cabresto – quando coronéis manipulavam o jogo político – deixou marcas fortes na história brasileira. Com a consolidação da democracia, os abusos fazem parte do passado, mas o poder dos prefeitos, principalmente aqueles eleitos com uma votação que supera 80% dos votos válidos, permanece fundamental. Com a antecipação da campanha de 2014 eles se tornam peças-chave na disputa. Em Minas Gerais, segundo maior colégio do país com 14 milhões de eleitores, divididos em 853 municípios, candidato que conta com apoio de um prefeito bom de voto dá um passo importante para se tornar majoritário na cidade.
Em São José do Divino, no Vale do Rio Doce, o prefeito Marcos Rogério da Silva (PMDB), teve 83,64% dos votos e sabe do potencial que tem como cabo eleitoral, mesmo governando uma cidade pequena, de 3,8 mil habitantes. “Percebo que já acontecem alguns namoros por parte do governo estadual e federal”, aponta Dr. Marcos, como é conhecido, por ser médico. Ele, no entanto, não deixa de se queixar. “Somos a única cidade da região que não recebeu maquinário do governo federal”, reclama.
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Prefeitos reclamam na Justiça verba do FPMPrefeitos e pré-candidatos ao governo de Minas afinam discursos de olho em 2014Prefeitos mineiros aproveitam brechas da legislação e nomeiam parentesMais de 121 mil eleitores voltaram às urnas em dez cidadesEm Paraisópolis, no Sul de Minas, a prefeita Silvinha (PT) foi a campeã estadual em percentual de votos: 91,09%. Petista, com um vice-prefeito tucano, Juarez José de Carvalho, ela não reclama: “Temos um acesso bom tanto ao governo federal quanto ao estadual”. Silvinha acredita que prefeitos como ela, que tiveram grande apoio popular em outubro, terão o poder de arrastar os votos dos eleitores para os candidatos que indicarem em 2014, mas observa que na sua cidade a situação pode ser um pouco diferente. Afinal, o vice é do partido adversário no plano estadual e nacional e também tem poder de fogo para convencer boa parte do eleitorado a votar nos candidatos tucanos.
Aliás, como é praxe no interior do estado, os partidos políticos não apresentam a mesma cor ideológica dos planos estadual e federal. É o caso do prefeito José Carlos de Barros, o Kako (PSDB), escolhido por quase 80% dos eleitores de Iapu, no Vale do Rio Doce. “Vou ser sincero, pois sou do PSDB, mas não sou um sujeito partidário. Gosto muito da postura e da administração da presidente Dilma Rousseff”, admitiu Kako. O prefeito da pequena cidade, de 10.315 habitantes, avalia que o governo Dilma tem uma postura correta com os prefeitos que não são de sua base aliada. “Ela tem ajudado muito e não é tão partidária como era o governo do ex-presidente Lula”, comparou ele.
GUINADA O prefeito de Teófilo Otoni, Getúlio Neiva (PMDB), tende a seguir também em direção oposta à do seu partido, principalmente se a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB) para a Presidência da República se confirmar. “A questão presidencial independe do partido político. O Brasil precisa dar uma guinada”, acredita o prefeito, eleito com 86,16% dos votos na maior cidade do Vale do Mucuri, com 134 mil habitantes.
Na análise de Neiva, que exercia mandato na Assembleia Legislativa antes de assumir a prefeitura, a maior influência como cabo eleitoral nas cidades do interior são dos prefeitos e dos deputados estaduais. “O mais importante é fazer um novo pacto federativo. O governo federal está fazendo uma linha direta com o povo, sem repasses às prefeituras”, reclamou o prefeito.
No Sul de Minas, o prefeito de Santa Rita do Sapucaí, Jeffinho (PR), eleito com 86,84% dos votos, pondera que por mais influência que tenha a conclusão é sempre do eleitorado. “O povo vota em quem trabalha. Tenho interesse de ajudar a cidade que governo e se o governo federal mandar verba eu divulgo quem mandou e faço o mesmo se o dinheiro for do governo estadual”, analisa Jeffinho, que pela quarta vez é prefeito da cidade, de 38 mil habitantes. A última vez que governou (2001-2004) não concorreu à reeleição, pois fez uma cirurgia no coração e passou um tempo se recuperando. Apesar de ter tido a maioria absoluta dos votos, ele acredita que o apoio é passado. “Vai depender do meu trabalho”, afirma.