Brasília – Depois de silenciar durante o princípio da crise desencadeada no fim de abril entre os poderes Legislativo e Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, fez nessa segunda-feira duras críticas ao Congresso Nacional. O ministro afirmou que “a ineficiência e a incapacidade de deliberar” do Parlamento brasileiro estão relacionadas à fragilidade dos partidos – segundo ele, “de mentirinha” – e ao domínio exercido pelo Executivo sobre o Legislativo.
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Barbosa recebe advogados do mensalão com presença de procurador-geralEm nota, STF diz que Barbosa não teve intenção de criticar LegislativoJoaquim Barbosa critica sistema político brasileiro e defende reforma do modelo eleitoralRenan evita polêmica com BarbosaEm encontro com Joaquim Barbosa, ministra pede menos desigualdade racial no JudiciárioJoaquim Barbosa cobra tribunais sobre julgamento de ações de improbidadeRenan Calheiros minimiza críticas de Barbosa ao CongressoVice-presidente do Senado diz que dirigentes de Poderes deveriam "cada um cuidar do seu"Presidente em exercício da Câmara diz que Joaquim Barbosa é "fator de crise entre os Poderes"Para presidente da Câmara, declarações de Joaquim Barbosa são desrespeitoO ministro criticou o sistema político brasileiro e defendeu a implantação do voto distrital, no qual o país seria dividido em distritos em que cada um elegeria seu representante para a Câmara. De acordo com Barbosa, o Congresso de hoje é representado por interesses setorizados. “Passados dois anos da eleição, ninguém sabe mais em quem votou. Isso vem do sistema proporcional”.
O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), também presente à abertura da Semana Jurídica do Iesb, manifestou-se contra o voto distrital. Ele considera que esse modelo levaria a uma sub-representação das minorias.
Sem mencionar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33 – que submete decisões do STF à aprovação do Congresso –, o ministro Barbosa observou que o eventual controle do Judiciário pelo Legislativo representaria “o fim da Carta de 1988”. Para ele, “se levadas adiante essas tentativas, nós teríamos destruído a Constituição brasileira, todo o mecanismo de controle constitucional que o Supremo exerce sobre as leis”.
Durante a palestra, na qual abordou também o tema presidencialismo e a separação dos poderes, Barbosa alertou que a invasão de um poder sobre a esfera de outro tem potencial para levar à “destruição e supressão desse poder e de suas prerrogativas”.
O ministro defendeu o fim do voto obrigatório no país e criticou a demora do Congresso em apreciar a reforma política, que, segundo ele, infelizmente vem sendo “postergada”. No fim da tarde, o ministro recebeu no STF o advogado Márcio Thomaz Bastos e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para tratar do processo do mensalão. Advogado de um réu do processo, Bastos entregou um memorial a Barbosa.