A chave para identificar o autor da fraude na marcação de ponto na Câmara Municipal de Belo Horizonte pode estar nas imagens das câmeras instaladas no plenário. Diferentemente do que informou a direção da Casa – que garantiu que as câmeras só filmam a Mesa Diretora, o microfone do pinga-fogo e a tribuna – há imagens dos parlamentares entrando para a sessão e marcando presença nos dias em que o vereador Pablo César, o Pablito (PSDB), teve seu ponto registrado enquanto estava em viagem ao exterior. O Estado de Minas teve acesso com exclusividade a algumas dessas gravações (Confira abaixo o vídeo).
Nos dias 2, 3 e 6 deste mês as câmeras começaram a registrar a movimentação no plenário às 14h30. Na quinta-feira, o ponto de Pablito foi acionado do posto 37, às 14h50. As imagens mostram que alguns vereadores passaram pela cadeira. No mesmo dia, além do tucano, o vereador Jorge Santos (PRB) registrou presença no mesmo terminal. Na sexta-feira, o ponto de Pablito foi marcado no posto 24, às 15h07. Três segundos depois, Juliano Lopes (PSDC) registrou presença na mesma cadeira. Na sessão de segunda-feira, outros dois parlamentares registraram presença no terminal 37, em que foi marcado o ponto do vereador Pablito: Juliano Lopes e Preto (DEM).
A assessoria da Casa e a procuradoria – que foi responsável pelas investigações iniciais – haviam informado que só existiam as imagens que estavam disponíveis no portal da Câmara (www.cmbh.mg.gov.br/ webtv_camara/reunioes), conforme mostraram reportagens do EM nos dias 5 e 10. O corregedor, vereador Autair Gomes (PSC), que está dando encaminhamento às investigações desde que foi comprovado que um vereador foi responsável pela fraude, voltou a garantir ontem que não teve acesso a outras filmagens, além das que estão na web, que só mostram a Mesa Diretora, a tribuna e o microfone do pinga-fogo.
O presidente da Câmara, vereador Léo Burguês (PSDB), afirmou também desconhecer as imagens que registraram outros ângulos do plenário. Ele disse que não chegou a ver os filmes. “Mandei o chefe da segurança olhar e o dono da empresa terceirizada da TV. Eles falaram que não têm nada. Mandei olharem as fitas brutas, o material que já tinha sido editado e o que ficava na web. Eu não vi”, afirmou Burguês.
Investigações
Excluída a possibilidade de que as imagens ajudariam nas investigações, a Presidência da Câmara focou no painel eletrônico. Auditoria feita pela própria Câmara e por uma empresa particular apontou que não houve falha técnica no equipamento que registrou a presença de Pablito enquanto ele estava em Miami em três reuniões do mês. O laudo comprova as suspeitas de que há um pianista no Legislativo da capital mineira.
Com os laudos nas mãos, Léo Burguês recorreu ao Ministério Público de Minas Gerais. O relatório entregue pelo tucano à procuradoria afirma que foi determinada à área de segurança da Casa analisar os vídeos. “O que restou frustrado pelas circunstâncias locacionais das mesmas, conforme relato verbal do chefe respectivo (da Segurança)”, segundo o relatório.
A investigação foi passada também para as mãos do corregedor, Autair Gomes. Na segunda-feira ele começou a ouvir os envolvidos. O primeiro a prestar esclarecimentos foi o vereador Pablito, que garantiu não ter envolvimento na fraude. Hoje, será ouvido Juliano Lopes – que registrou presença poucos segundos depois no mesmo terminal onde foi registrada a presença do tucano. O corregedor vai convocar ainda o procurador do Legislativo, Augusto Paulino. Segundo Gomes, o promotor Marcelo Mattar, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais, esteve na Câmara na sexta-feira passada, acompanhado de peritos para verificação do painel de votação.
Pablito, que garante não ter autorizado nenhum vereador a marcar sua presença, terá cinco dias para apresentar testemunhas a serem ouvidas na comissão de apuração, caso entenda necessário. Nos três dias ele não compareceu às reuniões porque estava em Miami. Ele informou que foi acompanhar um familiar que está em tratamento de saúde.