Dois militantes que combateram a ditadura militar (1964–1985), foram presos e torturados receberam ontem o pedido de perdão do Estado brasileiro e também indenização monetária, concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Wellington Moreira Diniz, de 66 anos, que militou no Colina, Var-Palmares e VPR, recebeu uma indenização de 330 salários mínimos (R$ 223.740,00), porém o limite permitido pela lei é de R$ 100 mil. Já Cecílio Emigdio Saturnino (1940–2001), que era cabo da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), foi promovido a primeiro-sargento pela comissão. Caso a família comprove relação de dependência poderá receber a pensão mensal do ex-militante da ALN. Além disso, a Comissão da Anistia enviará um ofício pedindo que a PM que retire qualquer menção negativa ao nome do cabo na história da corporação. O julgamento dos dois militantes foi realizado no prédio da Faculdade de Direito da UFMG.
“Meu desejo pessoal era que ele fosse promovido a coronel, mas temos que seguir a lei”, afirmou o deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG), um dos nove conselheiros da Comissão da Anistia e relator do processo de Saturnino. A família do militante queria que Saturnino fosse promovido à patente de coronel. De acordo com o sobrinho dele, Reinaldo Nunes da Silva, o tio era inteligente e poderia ter conseguido a promoção caso não tivesse sido expulso da PM.
A família de Saturnino recebeu do presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abraão, um pedido de perdão em nome do governo brasileiro. O mesmo ocorreu com Wellington Moreira Diniz, que além da indenização limitada a R$ 100 mil teve o tempo entre sua primeira prisão (outubro de 1968) até a anistia, em 1979, contado para sua aposentadoria.
No último domingo o Estado de Minas publicou depoimento inédito de Wellington, em que ele revelou detalhes de sua biografia. Em nome da defesa da liberdade ele praticou 45 ações armadas em quartéis, bancos e contra veículos. Foi um dos protagonistas do assalto ao cofre da amante de Adhemar de Barros, a mais bem-sucedida ação da esquerda, que rendeu US$ 2,5 milhões (R$ 15 milhões em valores atualizados).
Além disso, Wellington foi um dos militantes mais próximos ao lendário capitão Carlos Lamarca, na Var-Palmares e na VPR, chegando a fazer a segurança do líder da esquerda. Foi exilado para o Chile em troca do embaixador suíço que havia sido sequestrado por outros militantes. No país andino foi segurança do presidente cubano, Fidel Castro, em 1971, quando este visitou o país, então governado por Salvador Allende. Trabalhou ainda como auxiliar dos cineastas Miguel Littín e Roberto Rosselini e lutou pela independência de Angola. Wellington é acusado pelo Serviço Nacional de Infornações (SNI) de ser responsável por 12 mortes.
“Naquele momento a linguagem que existia era a linguagem das armas. Eu empunhei armas contra aquele regime e voltaria a empunhar se fosse necessário”, afirmou Wellington, após subir ao palco do auditório da Faculdade de Direito com o braço estendido e o punho cerrado, sob fortes aplausos.