A ex-senadora Marina Silva passou a viver recentemente um período conturbado. Além de correr contra o tempo para viabilizar a criação da Rede Sustentabilidade, partido pelo qual pretende disputar a Presidência da República, em 2014, tem sido obrigada a expor, de forma efetiva, opiniões sobre temas polêmicos como união homoafetiva, legalização das drogas e descriminalização do aborto. No campo político, é acusada de fazer jogo duplo por questões eleitorais, já que prega postura “progressista” em relação temas espinhosos, mas não abre mão de avaliações pessoais mais “conservadoras” sobre as mesmas questões.
As cobranças de eleitores e políticos tiveram espaço na campanha presidencial de 2010, quando a ex-senadora recebeu quase 20 milhões de votos e terminou o pleito em terceiro lugar, atrás apenas da petista Dilma Rousseff (eleita) e do tucano José Serra. Mas o tema ganhou nova dimensão, neste ano, por causa das polêmicas geradas pelo Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal. O parlamentar recebeu a oposição ferrenha de militantes da causa LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) por causa de posições conservadoras. Em campanha para coletar as 550 mil assinaturas para a criação da Rede Sustentabilidade, não tardou para que as comparações entre Marina e Feliciano começassem.
Essas comparações se tornaram mais incisivas durante a passagem da ex-senadora por Pernambuco. No dia 13 de maio, ela proferiu palestra na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e, na oportunidade, disse que Feliciano é mais criticado por ser evangélico que por “suas posições políticas equivocadas”. A polêmica sobre as posições de Marina ganhou força depois que o Diario, em sua versão online, publicou matéria ressaltando a solidariedade religiosa da ex-senadora. Em poucos minutos, protestos contra ela ganharam espaço no Facebook e no Twitter.
Ao comentar a repercussão do assunto, o deputado federal Anderson Ferreira (PR-PE) fez críticas ao que se referiu como posição dúbia da ex-ministra. “O que acontece com Marina Silva é que ela tenta agradar a dois eleitorados e não vai conseguir isso”, disse o parlamentar pernambucano, que integra a vice-presidência da CDHM.
Esta visão, no entanto, é bem diferente da nutrida pelos colaboradores da Rede Sustentabilidade. O coordenador da campanha pela coleta de assinaturas em Pernambuco, Roberto Leandro, discorda das declarações de que a ex-senadora é dúbia para agradar a dois eleitorados. “Pela história de vida que ela tem, não tenho dúvida em afirmar que Marina é progressista”, disse.
A Marina o que é de Marina
Passados dez dias da palestra na Universidade Católica de Pernambuco, quando disse que o deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) era mais “criticado por ser evangélico que por suas posições equivocadas”, a ex-senadora Marina Silva publicou artigo na edição de ontem do jornal Folha de São Paulo, onde afirma que “a edição maldosa do Diario de Pernambuco me acusou de defender o deputado Feliciano e suas ideias equivocadas”. A defesa não é legítima. Às 9h19 do dia 14 de maio, o diariodepernambuco.com.br publicou matéria que tinha como título Em agenda no Recife, Marina Silva sai em defesa do pastor Marco Feliciano.
O que incomodou a ex-senadora e seu grupo político foi o uso, no título, da palavra "defesa". Incomodou porque desde que a notícia foi postada ela alcançou grande repercussão, superando 30 mil pageviews, além de mais de 17 mil visualizações através do Facebook e três mil via Twittter. Por causa do uso da palavra "defesa" - compatível editorialmente porque uma possível candidata à Presidência chamava a atenção para a perseguição de uma pessoa pelo fato de ser evangélica - a assessoria de imprensa de Marina chegou a divulgar matérias e vídeos de um mês anterior, em uma palestra na Unicamp (São Paulo) como se fossem referentes à palestra da Unicap, uma forma de descredenciar o Diario e confundir o internauta. Diante da repercussão do assunto, portais e jornais de várias regiões do país ligaram para repercutir as declarações de Marina a respeito da “má-fé” do Diario. Não deram eco às reclamações da candidata. O que foi publicado na época pelo jornal - tanto no site quanto no papel - é a reprodução fiel do seu pensamento.