São Paulo – Autor da foto histórica do “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog, o ex-fotógrafo da Polícia Civil Silvaldo Leung Vieira, de 59 anos, participou nessa segunda-feira da tentativa de reconhecimento do local onde Vlado foi morto, em 25 de outubro de 1975, no prédio do DOI-Codi, atualmente uma delegacia. Acompanhado pela Comissão da Verdade da Câmara Municipal e de ex-presos políticos, Leung reconheceu o prédio como o local para onde foi levado, ainda estudante de fotografia, para fazer a imagem, mas não localizou a cela onde foi forjada a cena de suicídio.
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Romário e filho de Herzog pedem saída de Marin da CBFFilho de Herzog levará à CBF petição contra MarinVladimir Herzog ganha atestado de óbitoMorte de Vladimir Herzog provoca petição contra o estado brasileiro na OEAAbraji repudia agressão da PM a fotógrafo no RJ“O que me chamou mais a atenção foi que o Herzog estava com os dois pés no chão”, disse Leung. “Se você observar a foto, você vai ver que os dois pés estão no chão. Eu achei estranho aquilo porque é difícil você cometer suicídio assim.”
Vivendo em Los Angeles (EUA) desde 1979, Leung afirma que aquela imagem e os três anos em que trabalhou para a polícia foram decisivos para que deixasse o país. “Me decepcionei profundamente. Fiquei com medo.” Ele afirmou que não sabia de quem se tratava, mas que percebeu que era o ex-diretor da TV Cultura porque sua morte causou comoção na USP, onde Leung fazia o curso da Polícia Civil com mais 20 colegas. O fotógrafo está no Brasil a convite da Comissão da Verdade e hoje presta um depoimento formal aos vereadores.
Em março, após pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a família de Herzog recebeu um novo atestado de óbito, com a informação da causa da morte corrigida. Na certidão, passou a constar que o jornalista morreu em decorrência de “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do 2º Exército (DOI-Codi)”, em substituição a “asfixia mecânica por enforcamento”.
Mereci ser torturado
Em entrevista no início da madrugada dessa segunda-feira no programa De frente com Gabi, no SBT/Alterosa, o cantor Amado Batista contou à jornalista Marília Gabriela que foi torturado pelo regime militar. Mas surpreendeu a apresentadora ao dizer que apanhou porque mereceu. “Eu acho que eu mereci. Eu fiz coisas erradas, então eles me corrigiram, assim como uma mãe que corrige um filho”, declarou o cantor. Atordoada, a jornalista retrucou: “Que coisa errada você fez?”. Prontamente, ele respondeu: “Eu acho que eu estava errado de estar contra o governo e ter acobertado pessoas que queriam tomar o país à força”.