Juliana Braga, Karla Correia, Antônio Temóteo e Sílvio Ribas
“Essa questão não é política, é matemática. Se nós precisamos de sete dias, e não temos os sete dias, já é uma decisão tomada”, sustentou Renan. “Isso foi um compromisso assumido com o plenário. Não é uma decisão do presidente, é uma decisão da instituição, que considera que é papel constitucional dela discutir as medidas provisórias, alterá-las”, defendeu o presidente do Senado. “Nós deveríamos então parar e definir um ordenamento para isso”, disse o senador Walter Pinheiro (PT-BA). “Não tem como a matéria ser votada na terça-feira e completar sete dias antes de segunda-feira. Me desculpa se o meu calendário é diferente do seu”, afirmou Renan. “Essa medida provisória é importante, como outras. Mas mais importante do que isso é o Senado”, emendou Pedro Taques (PDT-MT), durante os debates.
A MP 601/2012, que amplia a desoneração da folha de pagamentos para setores da construção civil e do varejo, e a 605/2012, que reduz a conta de energia elétrica, expiram em 3 de junho e só foram aprovadas pela Câmara dos Deputados na tarde de ontem. Como o prazo só começa a contar um dia após a leitura no plenário, os senadores teriam apenas seis dias para analisar e apresentar emendas à proposta. Renan ainda tentou procurar entendimento entre os líderes para ler as medidas provisórias e iniciar suas tramitações na Casa. Como a oposição foi contra, o presidente levou a decisão para o plenário.
Antes mesmo que os parlamentares analisassem o assunto, o Palácio do Planalto se manifestou para dizer que, independentemente dos senadores, o desconto na energia elétrica está garantido. “A população não precisa se preocupar. O governo tem os mecanismos para garantir essa redução da tarifa até encontrar a solução legislativa adequada”, afirmou a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Ela fez questão de dizer também que “o governo lamenta muito” a não votação das duas matérias.
Comissão mista
Enquanto isso, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), fez mea-culpa e responsabilizou as comissões mistas pelo atraso na apreciação das MPs. O deputado chegou a apelar ao presidente do Senado para que votasse as medidas. “Faço um apelo público para que todo esse esforço não tenha sido em vão. Que o Senado possa compreender e votar dentro do prazo as MPs 605 e 601”, pediu, no plenário.
Prejuízos
As duas iniciativas do governo emperradas no Senado são consideradas estratégicas para estimular a economia. A MP 605 permite a transferência de recursos de um fundo setorial, a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), para ressarcir concessionárias de usinas térmicas na renovação de contratos, além de autorizar o governo a captar recursos no mercado para financiar parte da redução da tarifa. Sem ela, os consumidores poderiam arcar com uma alta de até 15% nas faturas de energia, o que o governo já avisou que não permitirá que ocorra.
Editada no fim do ano passado, a MP 601 permite que as empresas da construção civil e 16 segmentos da economia sejam incluídos no benefício da desoneração da folha de pagamento e amplia o Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra). Segundo a assessoria técnica do PSDB, caso a medida não entre em vigor, o prejuízo para as empresas listadas chegaria a R$ 6 bilhões por ano.
Projeto dos partidos
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou para julgamento o processo que trata da legalidade do projeto de lei que dificulta a criação de partidos. No fim de abril, Mendes concedeu uma liminar ao senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que determinou que a tramitação da matéria fosse paralisada no Congresso Nacional. Diante da liberação do voto, o julgamento do mérito do mandado de segurança pelo plenário do STF deverá ser marcado para quarta ou quinta-feira da semana que vem. A proposta é alvo de polêmica, pois impede os parlamentares de levarem consigo uma fatia do tempo de tevê e dos recursos do fundo partidário, ao migrarem para uma nova legenda, e prejudica a intenção da ex-senadora Marina Silva de criar um partido.