Para Marcos Leôncio, a nova realidade do crime no país exige atuação da corporação com base em três pilares: transparência, eficiência e isenção. Segundo ele, para atingir a transparência necessária é importante que o diretor-geral, além de ser um delegado de carreira, tenha um mandato, que se relacione com o Parlamento, com a imprensa e com a sociedade, para prestação de contas. “O que queremos é uma política republicana”, explica.
"Acanhada"
O presidente da ADPF acredita que a Polícia Federal, da forma como está estruturada hoje – sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça –, está "acanhada". Como exemplo, cita a necessidade de criação de novas unidades de repressão, como a de desvio de recursos públicos, de crimes financeiros e de combate à corrupção. Além disso, lembra a necessidade de criar mecanismos para estimular os profissionais para o trabalho nas unidades de fronteira. “O que defendemos, na verdade, é uma maior proteção contra os cortes no orçamento e mais agilidade na aplicação de recursos, como acontece na Abin, Defensoria Pública, entre outros órgãos. Podemos até ficar vinculados ao Ministério da Justiça, mas como uma secretaria”, diz. Segundo Marcos Leôncio, para consolidar essas novas diretrizes, a associação fez uma pesquisa com a categoria para diagnóstico dos principais problemas. Foi do resultado dessa consulta que foi elaborado o planejamento estratégico.
O delegado sabe que o caminho é longo e obrigatoriamente exige maior aproximação com o Congresso. “Pretendemos debater também com a sociedade a polícia que ela quer, por meio de audiências públicas. Mas não há dúvida de que o que se espera, num cenário de avanço da criminalidade, é uma polícia forte e não uma polícia tutelada, controlada”, diz. É mais uma vez na experiência do Ministério Público, cujo procurador-geral é escolhido por meio de lista tríplice, que os delegados se espelham para buscar a escolha do comandante da corporação também por eleição direta.
Marcos Leôncio afirma que durante anos o MP encaminhou nomes da categoria à Presidência da República, que ignorou a indicação. Até que, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, a realidade se alterou e os escolhidos eram um dos indicados pela categoria. “Isso comprova que uma liberalidade pode se transformar em uma conquista, mesmo que essa realidade venha em 10, 15 anos”, conclui.
Enquanto isso...
… Gatilho para concurso
Se existem grandes batalhas pela frente, a Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) guarda fôlego também para outras menores, como a criação de um gatilho para a criação de concurso para reposição dos quadros de pessoal da PF. Para o presidente da entidade, Marcos Leôncio Ribeiro, isso significa dizer que cada vez que a vacância para o cargo de delegado atingir 10%, automaticamente seria autorizada uma nova seleção. “Atualmente nós perdemos 25 delegados por ano e o último concurso para a carreira aconteceu em 2004. Para dar uma noção da defasagem basta considerar que em 1973 o Conselho Superior da Polícia Federal estabeleceu que o contingente da corporação tivesse 15 mil homens. Hoje, passados 41 anos, o número é de 13 mil homens, com 1,7 mil delegados na ativa”, explica.