O pleito para escolher o mandatário máximo do tribunal será em dezembro, mas o tema já domina os bastidores nas Seções de Direito Público, Privado e Criminal. Veteranos e prestigiados desembargadores repudiam eventual tentativa de reeleição de Sartori. Alegam que a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), artigo 102, e a tradição, sobretudo, vetam a recondução, barrando a politização nos tribunais.
"Não é viável e não é da tradição a reeleição", alerta um magistrado da Seção Criminal. "Não vejo razão para ele (Sartori) buscar a recondução, independentemente se é bom ou ruim para o tribunal." Outro desembargador, do Direito Público, pondera. "Sou a favor da reeleição, mas não que mudem a regra no meio do jogo. Não vale chavismo."
"Não sei", esquivou-se Sartori, indagado se é candidato a mais dois anos no posto. Mas, no melhor estilo populista, não esconde que a ideia o seduz. "Se quiserem a minha permanência, eu fico (veja abaixo)."
A fonte dos recursos distribuídos por Sartori é o Fundo Especial de Despesa (FED), que abriga receitas que entram diretamente para o tribunal - parte das taxas de concursos e judiciária, taxas de permanência dos depósitos judiciais e venda de material inservível.
O FED foi criado para modernização dos fóruns. Em dezembro, sob gestão do presidente Barros Munhoz (PSDB) - réu em ações por improbidade e amigo de Sartori-, a Assembleia aprovou projeto autorizando o TJ a usar o Fundo para pagar benefícios ao pessoal.
'PAC do Sartori'. O argumento central do grupo que defende a reeleição de Sartori é que sua obra não pode ser interrompida e um sucessor à beira da aposentadoria não teria o vigor necessário. Sartori tem o seu PAC. O "Programa Fórum São Paulo" prevê, em 5 anos - investimento anual de R$ 200 milhões -, ampliação e reforma de prédios e construção de novos edifícios para desembargadores.
Sartori tem feito palanque eleitoral das sessões do Órgão Especial, colegiado de cúpula que reúne 25 desembargadores. No dia 15, estrategicamente tocou num ponto que anima a toga. "O dinheiro do Fundo vai indo bem. Sem o Fundo o tribunal não sobrevive. Mas precisamos agir com prudência. Temos que pôr em dia as férias dos funcionários e dos juízes. Temos servidores passando fome."
Com ares de estadista, falou das costuras políticas. "Para fazer orçamento real precisamos de pontes políticas, com o governo e a Assembleia. Tem que ter coragem para lidar com essa parte política. O governo tem sido sensível. O presidente já recebe no começo do ano uma conta inicial. Situação delicada para o presidente, sempre com a guilhotina no pescoço."
Sartori disse ao Estado, por e-mail, que o Fundo "tem sido usado com parcimônia", quando se trata de indenização de pessoal, autorizada pela Lei 8.876/94, com redação das Leis 12.395/06 e 14.943/13.