Leia Mais
Índios Terenas vão a Brasília e querem falar com DilmaMinistro pede serenidade a índios e fazendeiros envolvidos em disputas por terrasMinistro Carvalho diz que índios serão ouvidos sobre obrasPF investiga 'máfia das falências' na justiça do ParanáCNBB pede adiamento de reunião até que impasse entre governo e mundurukus seja resolvidoMinistra se reúne com CNBB e Cimi para discutir conflitos indígenasMinistério de Minas e Energia sugere parcerias com índios em empreendimentos hidrelétricosCanteiro de Belo Monte pode voltar a ser ocupado, diz líder indígenaPara o procurador da República, a indenização é a forma de o Estado brasileiro compensar os produtores não pela terra ou pelas benfeitorias, mas por agir de forma “contraditória”. Delfino entende que a União é a principal responsável pelos atuais conflitos. Isso porque, durante o século passado, estimulou pessoas de outras regiões do país a se mudar para o Centro-Oeste e ocupar áreas até então povoadas por índios. Enquanto comunidades indígenas inteiras eram deslocadas, o Estado brasileiro concedia aos recém-chegados títulos de propriedade das terras que, hoje, reconhece que pertenciam aos índios.
“Há um parecer da consultoria jurídica do Ministério da Justiça que atesta a possibilidade de a União indenizar as terras que ela própria titulou. Se todas as partes se sentarem para negociar é possível pensar em outras propostas, mas, hoje, esta é a única solução possível para os conflitos. No caso da União, não é necessária nenhuma mudança legal. Basta o governo federal pegar o parecer jurídico, torná-lo vinculante e destinar dinheiro para pagar as indenizações integrais”, disse Delfino à Agência Brasil, criticando o fato de uma emenda parlamentar de R$ 100 milhões, apresentada no ano passado pelo senador Waldemir Moka (PMDB-MS) para esse fim, ter sido reduzida a R$ 20 milhões no Orçamento deste ano.
Para o senador, o valor é irrisório, principalmente levando em conta o tamanho das áreas em discussão. “Não adianta fazer reunião, audiência pública no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas se não houver recurso no orçamento. Sem dinheiro, esse conflito não vai acabar nunca.”
O presidente da Famasul, Eduardo Riedel, também defende a indenização integral como forma de o Estado reparar o que fez no passado. “Se o governo federal entende que, agora, os índios têm que ser instalados nessas áreas, que as compre e pague por elas”, disse Riedel. "Em algum momento, o Estado brasileiro estimulou as pessoas a ocupar essas áreas, dando a elas os títulos de propriedade. Tentar tirá-las dalí sem as indenizar, certamente vai gerar conflitos", acrescentou Riedel em entrevista à Agência Brasil e à TV Brasil, no fim do ano passado. Na época, Riedel comentou que poucos produtores discordavam da proposta, por diferentes motivos.
Irmão do índio terena Osiel Gabriel, morto na última quinta-feira (30), e primo de Josiel Gabriel Alves, baleado nessa terça-feira (4), Otoniel Terena disse quarta-feira que vários produtores rurais sul-mato-grossenses já sinalizaram que aceitam deixar as fazendas, desde que recebam pela terra e pelas benfeitorias um valor que considerem justo. “O governo diz que é difícil resolver o problema, mas os fazendeiros já aceitaram vender suas terras. Um índio teve que ser morto para o governo fazer algo”, disse Otoniel, referindo-se à visita do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao estado, ontem. “Ficamos com uma terrível sensação de que estamos sendo injustiçados.”
O secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto, reforçou a opinião de Otoniel. “O Cimi entende que, além da indenização pelas benfeitorias, os não índios que ocupam terras tradicionais dos povos indígenas têm direito à indenização pelos títulos de propriedade de boa-fé dessas terras. Os títulos emitidos pela União devem ser indenizados diretamente pela União. Já os títulos emitidos pelos estados federados devem ser indenizados por eles”, completou Buzatto.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mantém discurso cauteloso sobre o tema. “Tudo isso será objeto dessa discussão, eu não vou antecipar propostas . Vou previamente me reunir, inclusive com o Conselho Nacional do Ministério Público e com o Conselho Nacional de Justiça, para discutir um pouco as questões jurídicas que envolvem o caso."