Adriana Caitano
Brasília – Acostumados a desviar a atenção das votações para dar uma espiada na tevê, ligada em jogos de futebol no cafezinho da Câmara dos Deputados, os parlamentares já se movimentam para acompanhar – de preferência de camarote – a Copa das Confederações, que começa no próximo sábado, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. A chamada bancada da bola, que costuma lidar com assuntos esportivos, tem sido assediada pelos colegas que ainda esperam conseguir ingressos para a primeira partida da Seleção Brasileira, em Brasília. O segundo jogo, marcado para a tarde de uma quarta-feira, em Fortaleza, promete paralisar as atividades no Congresso Nacional em pleno dia de plenário.
Na época em que o Legislativo federal votou a Lei Geral da Copa, a Fifa fez um “acordo informal” para haver uma cota para políticos nas arquibancadas, ao menos quando o Brasil estivesse em campo. A negociação envolveu também as partidas da Copa do Mundo de 2014, mas ainda há conversas para que seja estendida à das Confederações. Como nada é garantido, muitos parlamentares apelaram para outras possíveis fontes de ingressos vips. As principais são os patrocinadores e os governos dos estados onde ocorrerão os jogos, que tiveram direito a pacotes de entradas. Quem não tem contato direto com eles abordou outros deputados que poderiam fazer a ponte, como os que atuam na área esportiva ou os que são das cidades-sede. “Tenho sido procurado por muitos colegas que acham que eu posso fazer alguma coisa, mas nem sempre é possível”, relata Vicente Cândido (PT-SP), vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF).
Se a busca por garantir um lugar privilegiado para ver a seleção em campo der certo, poderá haver um número recorde de parlamentares em Brasília, em pleno fim de semana, quando eles costumam deixar a cidade. “Muita gente vai ficar aqui. Se marcarem uma sessão na Câmara na sexta-feira, com certeza, vai ter quórum”, brinca o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que integra a Comissão de Turismo e Desporto.
Já na tarde do dia 19 ficará clara a divisão entre os que conseguiram ingressos e os que ficaram de fora. A partida entre a Seleção Brasileira e a do México, que ocorrerá em Fortaleza, está marcada para as 16h e oficialmente a atividade na Câmara não será suspensa. Caso haja votação nesse dia, muitos devem ausentar-se porque garantiram entrada no estádio do Castelão. Para os outros, restará a cena habitual em dia de futebol: acompanhar os lances do jogo na sala de tevê que fica no cafezinho do plenário. “Se a sessão começar mais tarde, nós, que nos interessamos mais pelo assunto, certamente poderemos também nos reunir na casa de alguém, como fizemos na Copa de 2010”, adianta Delgado, organizador das semanais partidas entre parlamentares na capital federal.
REDE SOCIAL Os deputados ligados na Copa também devem “entregar” que deixaram a política de lado nas redes sociais. Alguns deles já têm o hábito de comentar jogos do Campeonato Brasileiro em seus perfis e ficam mais efusivos quando o Brasil está em campo. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é um dos mais ativos no assunto futebol, e comenta principalmente os jogos do Vasco, time do qual é torcedor. No domingo passado, Alves publicou no Twitter que assistia à partida da Seleção Brasileira contra a Inglaterra no Maracanã, no Rio de Janeiro. Acertou o palpite de que o resultado seria um empate de 2x2 e ainda criticou o desempenho da equipe. “Melhores jogadores, mas não se tem como antigamente aquela raça, aquela alegria de jogar. Tudo muito comercial”, afirmou ele no seu perfil.
Dívida de clubes
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, se reúne na terça-feira com os parlamentares ligados à Comissão de Turismo e Desporto para tratar da criação de uma medida provisória que deve perdoar as dívidas de clubes de futebol brasileiros com a União. A contrapartida dos principais times, que devem cerca de R$ 4 bilhões em impostos, poderá ser a realização de projetos sociais. Os deputados querem que o texto seja enviado ao Congresso antes do fim da Copa das Confederações. “Vamos pedir celeridade para que se crie uma pauta positiva neste momento”, explica o deputado Vicente Cândido (PT-SP).
BOQUINHA NOS ESTÁDIOS