Brasília – O presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, defendeu nesse domingo a demissão do diretor
“Ainda que ele nada tenha a ver com os episódios, hoje sob investigação, de torturas e desaparecimentos ocorridos à época da ditadura, a sua suspeição é evidente pelas funções que exerce atualmente”, disse Damous. Para ele, Belham tem acesso a informações privilegiadas sobre a época em que o pai atuava como dirigente do DOI-Codi do Rio, conhecido como um dos órgãos de repressão mais fortes da ditadura. “Não temos que estigmatizá-lo por ser filho do general, mas a posição que ele ocupa cria a suspeição.”
O escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, cujo corpo continua desaparecido até hoje, questiona a posição de destaque do filho de Belham na estrutura da agência. “Causa-me desconforto e estranheza saber que ele é filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como, numa posição de destaque na Abin, ele vai facilitar a revelação de informações secretas que comprometam o pai?”, justifica.
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Relatos levam Comissão da Verdade do Rio às lágrimasComissão da Verdade do Rio ouve historiadora que teve corpo usado em 'aula de tortura'Falta de acordo atrasa criação da Comissão da Verdade em MinasAbin amplia atuação no exterior e abre escritórios em 4 paísesGeneral é chamado a depor na Comissão da VerdadeA Abin guardava, em relação ao período entre 1964 e 1990, mais de 132 metros lineares de documentos sobre o regime militar, o que soma cerca de 1 milhão de páginas. Ainda há 220 mil unidades de microfichas enviadas pela Abin para digitalização no Rio. Os documentos foram encaminhados ao Arquivo Nacional, em Brasília. O EM tentou falar com o general da reserva Belham, mas uma mulher que atendeu o telefone dele disse que o militar está viajando. O filho, Ronaldo Belham, foi procurado por meio da assessoria da Abin, mas não atendeu a reportagem.
“Escolha do governo”
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) destaca que a responsabilidade pelos atos dos ocupantes de cargos de confiança no governo federal é da presidente Dilma Rousseff. “Não cabe à oposição dizer quem o governo deve nomear, mas vamos aguardar para ver o resultado dos atos (de Ronaldo Belham) e das investigações da Comissão da Verdade. Depois disso, poderemos ver se o governo deu um tiro no pé ou acertou”, ponderou.
Já o deputado federal e ex-secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda (PT-MG) disse que é “precipitado” pedir a demissão de Belham. “O fato de ser filho de um ex-general não significa que ele concorde com o que ocorreu durante a ditadura. Ele não controla acervos do período e, por isso, não vejo com preocupação a permanência dele no cargo. Os documentos da Abin foram encaminhados ao Arquivo Nacional e podem ser consultados”, avaliou. Para ele, não se deve tratar a questão com “revanchismo”. “Nossa luta não deve se dar com a rotulação das pessoas, como se fazia na ditadura.”