Seis dos 10 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestaram pela derrubada da liminar de Gilmar Mendes que paralisou a tramitação do projeto de lei que impõe barreiras à criação de partidos. A Corte, no entanto, adiou para a semana que vem a conclusão do julgamento do mandado de segurança proposto pelo senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), que pede o arquivamento da proposta. O placar oficial é de 5 a 2 pela revogação da liminar. Na prática, porém, já há maioria para que a proposta volte a tramitar no Congresso, pois o presidente do STF, Joaquim Barbosa, adiantou que seu voto será nesse sentido.
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Renan: Decisão do STF sobre novos partidos foi 'vitória'STF suspende julgamento de projeto que inibe criação de partidos STF pode ser manipulado em lei de partidos, dizMendesSTF estende prazo para Lei Orgânica da MagistraturaO relator do caso, Gilmar Mendes, que havia votado na quarta-feira, reiterou que o STF definiu em julgamentos anteriores as regras de fidelidade partidária e a possibilidade de parlamentares levarem o tempo de tevê para uma nova sigla. Ele afirmou que a proposta deveria se chamar “projeto anti-Marina Silva”, referindo-se ao fato de que a ex-senadora será a maior prejudicada caso a matéria seja aprovada. “É a coisa julgada da decisão do Supremo que está sendo vilipendiada”, criticou.
Barbosa, por sua vez, manifestou posição contrária à de Mendes, embora ainda não tenha votado. “A questão central é que vivemos num sistema presidencialista com separação de poderes. É bizarra a intervenção de uma Corte Judiciária no sentido de proibir o Legislativo de deliberar”, afirmou.
Teori Zavascki foi o primeiro a divergir de Mendes. Para ele, o STF só pode avaliar a constitucionalidade de uma norma depois que esta se transforma em lei. O voto dele foi acompanhado por Rosa Weber, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello. O ministro Dias Toffoli foi o único a seguir o voto do relator. “Não há como negar um caráter casuístico aqui”, disse. O decano do STF, Celso de Mello, fez intervenções demonstrando que acompanhará esse posicionamento.
Marina
De autoria do deputado federal Edinho Araújo (PMDB-SP), a proposta veta a possibilidade de parlamentares lavarem para um novo partido o tempo de televisão e o fundo partidário. A base aliada do governo Dilma Rousseff luta pela aprovação do projeto, que poderá inviabilizar a candidatura da ex-senadora Marina Silva ao Palácio do Planalto, o que aumentaria as possibilidades de a petista vencer a disputa no primeiro turno.
Marina Silva, que assistiu à sessão no plenário do STF, afirma que a eventual aprovação do projeto levará a uma redução de 35 segundos do programa eleitoral do Rede Sustentabilidade, partido que ela tenta viabilizar e que contará, neste caso, com apenas 20 segundos. Ela avalia que o “intervalo” na tramitação da matéria em função da liminar foi importante. Isso porque o Ministério Público e o Supremo puderam fazer a análise da constitucionalidade da matéria, o que não ocorreu no Parlamento. “O Senado agora vai ter que corrigir (a decisão da Câmara pela aprovação da medida)”, disse Marina. Ela avisou que levará a questão à Corte novamente se o projeto for aprovado na Casa.
Senado
Em nota, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que “prevaleceu a harmonia e a independência dos poderes” no placar parcial do STF. “Não há vencedores, não há vencidos. Ganham as instituições, a democracia, a Constituição Federal e o processo legislativo”, afirmou Renan. Mais cedo, depois de conversa com os líderes dos partidos, ele havia dito que, se liberado, o texto será votado “no melhor momento” e que ele “atende as expectativas do parlamento e também da sociedade, que anseia pelo fortalecimento dos partidos”. Autor do mandado de segurança que provocou a interrupção da tramitação da proposta no Senado, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) disse que espera que a Casa arquive a proposta. (Colaborou Juliana Colares)