Uma onda gigante de protestos avança pelo país e ontem varreu pelo menos 10 capitais e algumas dezenas de cidades do interior. Nos bastidores políticos e dos próprios movimentos, era inevitável a comparação com os dois maiores movimentos populares ocorridos no país nos últimos 30 anos: o Diretas Já, que em 1983 e 1984 pedia eleições diretas no Brasil, e o dos caras-pintadas, que mobilizou os estudantes no decorrer de 1992 pelo impeachment do então presidente Fernando Collor. Desta vez, porém, os manifestantes, convocados 100% pelas redes sociais, não querem ir às urnas nem derrubar a presidente Dilma Rousseff. O estopim do momento são os reajustes da passagem de ônibus e os gastos excessivos com a Copa do Mundo e a Olimpíada.
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Governo está preocupado com manifestações, diz CarvalhoMercadante defende direito de jovens protestarem e pede menos repressãoPresidente do Congresso reconhece legitimidade de protestosPolíticos discutem como evitar invasão do CongressoCarvalho diz que governos precisam estar atentos a novas formas de manifestação popularNas redes sociais, protestos se tornaram praticamente um tema únicoBandeiras brancas substituem bandeiras de partidosProtestos nas principais capitais do país colocam sistema político em xequeMobilização para manifestações que tomaram conta das ruas é feita via internetManifestantes ocupam as cúpulas do Senado e da CâmaraApesar das negociações entre manifestantes, polícia e governos, na tentativa de evitar atos violentos como os ocorridos semana passada na capital paulista – que repercutiram negativamente pelo mundo –, a promessa de protesto pacífico não vingou e os confrontos voltaram à cena em alguns momentos e o clima de tensão imperou no Rio, Brasília e Belo Horizonte.
Durante todo o dia, políticos, como ex-presidentes, ministros e parlamentares, a exemplo dos jovens manifestantes, usaram as redes sociais para opinar sobre os protestos. “Ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil porque a democracia não é um pacto de silêncio, mas sim a sociedade em movimentação em busca de novas conquistas”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mais cedo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) usou seu perfil no Facebook para falar pela primeira vez sobre o movimento: “Os governantes e as lideranças do país precisam atuar entendendo o porquê desses acontecimentos nas ruas. Desqualificá-los como ação de baderneiros é grave erro. Dizer que são violentos nada resolve”. Ao lado da mensagem, o ex-presidente postou uma foto do Diretas Já, na Praça da Sé, em São Paulo, em 1984. Pelo Twitter, o especialista em marketing político Gaudênio Torquato afirmou que a multidão lembra os caras-pintadas na época de Collor. “Momentos históricos”, postou.
Em São Paulo, a Defensoria Pública entrou com uma ação judicial contra a figura da “prisão para averiguação”, muito usada na época da ditadura e adotada por delegados na quinta-feira passada para prender cerca de 150 manifestantes. Esse tipo de prisão, segundo os defensores, é considerado ilegal, extinto pela Constituição de 1988. Líderes do movimento chegaram a publicar no fim se semana nas redes sociais um manual de comportamento. Com orientações jurídicas, o texto ensina, entre outras coisas, as “cinco maneiras de ajudar sem sair de casa” e as “15 dicas para quem vai às ruas protestar”. O perfil “Occupy São Paulo”, autor do manual, pede, no entanto, um protesto pacífico: “Lute, mas não recorra à violência”.