Jornal Estado de Minas

Fonteles renuncia à Comissão da Verdade

Diego Abreu
Cláudio Fonteles não escondeu que enfrentou divergências internas - Foto: Bruno Peres/CB/D.A PressO ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles não faz mais parte da Comissão Nacional da Verdade. Ele renunciou ao cargo a que tinha sido indicado pela presidente Dilma Rousseff, alegando “razões pessoais”. Fonteles não esconde que enfrentou divergências internas no grupo, mas alegou que os desentendimentos não pesaram na sua decisão de deixar o colegiado.


“É irreversível. Considerei realmente que o meu trabalho na Comissão da Verdade cumpriu-se, chegou ao fim. Então, entendi, por razões estritamente pessoais, que era o tempo de encerrar. Acho que já fiz um trabalho, participei de diversos debates no país, produzi 150 textos escritos. Tudo na vida tem o seu tempo. E esse foi o meu tempo”, explicou Fonteles, em entrevista durante um ato realizado ontem contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, na Procuradoria Geral da República.

Questionado se a postura do governo em relação à comissão ou às desavenças internas influenciaram em sua decisão, Fonteles negou. “Quanto ao governo, de maneira alguma. Quanto àquilo já foi noticiado pela imprensa (divergências internas), não pesou, até porque foi sanado. As pessoas que não tinham essa ideia se convenceram de que é útil e fundamental para o país que a Comissão Nacional da Verdade seja um mero instrumento da cidadania.”

Pontuando que “ninguém é insubstituível”, o ex-procurador avalia como positiva a possibilidade da chegada de novos integrantes à comissão. Além da vaga dele, há outra aberta, com o pedido de desligamento do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp da comissão.

Irreversível


Cláudio Fonteles disse que não procurou a presidente Dilma Rousseff para comunicar sua renúncia. Segundo ele, coube à advogada Rosa Cardoso, atual coordenadora da comissão, enviar um documento ao Palácio do Planalto. “A minha vida tem sido sempre assim. Eu larguei a Procuradoria-Geral da República e ninguém pensava que eu ia largar, eu não quis a recondução”, completou .

A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, que agrega parentes de vítimas da ditadura militar, divulgou uma nota na qual apela que Fonteles permaneça no cargo. Ele garantiu na entrevista, porém, que sua decisão é “irreversível”.

Ziller de volta

A restituição simbólica do mandato de Armando Ziller, um dos comunistas mais antigos do país, foi aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia. Eleito em 1947 pelo Partido Comunista do Brasil – para a Legislatura que durou até 1951 – político teve o mandato cassado no ano seguinte, quando, no governo do marechal Eurico Gaspar Dutra, a Justiça Eleitoral destituiu o Partidão. A proposta foi da deputada Luzia Ferreira (PPS), depois que o líder nacional do PCB, Luiz Carlos Prestes, teve o mandato de senador reconhecido pelo Senado. Ziller era um líder sindical, presidente do Sindicato dos Bancários de Minas.