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Estado de Minas

Sem espaço nas manifestações, políticos e partidos passam seu recado pela internet


postado em 20/06/2013 06:00 / atualizado em 20/06/2013 07:26

Manifestação em São Gonçalo, no interior do Rio: como em outras cidades pelo país, partidos foram excluídos dos protestos(foto: Fernando Frazão/ABR)
Manifestação em São Gonçalo, no interior do Rio: como em outras cidades pelo país, partidos foram excluídos dos protestos (foto: Fernando Frazão/ABR)

Rechaçados das manifestações que pipocam pelo Brasil desde a semana passada, os políticos e seus partidos estão buscando uma alternativa para pegar carona nas reivindicações dos movimentos, seja criticando ou simplesmente apoiando, de longe. Para isso, sites oficiais das legendas e as redes sociais têm sido os instrumentos mais eficazes para se aproximar dos manifestantes que, por mais de uma vez, recusaram a participação partidária no movimento. E não falta criatividade. O prefeito Getúlio Neiva (PMDB), de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, por exemplo, usou o site oficial do Executivo municipal para postar uma carta aos moradores da cidade, não apenas convocando para a manifestação, mas demonstraNdo apoio irrestrito ao movimento. E não ficou só nisso. Neiva inovou e solicitou à banda de música da Polícia Militar que se colocasse à disposição dos manifestantes. “Torno público o meu apoio irrestrito à manifestação popular, convocada através das redes sociais, incluindo Teófilo Otoni no roteiro nacional de reivindicações. Considero esses atos como formas legítimas e democráticas dE o povo se manifestar”.

Apesar do apoio, Neiva não se esqueceu de pedir também que não houvesse ato de vandalismo e colocou o efetivo das polícias Civil e Militar para assegurar a tranquilidade na passeata. Ela reuniu cerca de 4,3 mil pessoas para reivindicar melhoria do transporte público e a volta do restaurante popular. Tudo terminou ao som do hino nacional, tocado pela banda militar e cantado pela multidão.

Mas Neiva não ficou sozinho. Seguindo nessa linha, ontem, os deputados federais do Rio de Janeiro Chico Alencar (PSOL), Edson Santos (PT), Jean Willis (PSOL), Glauber Braga (PSB), Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT) postaram no Facebook uma Carta aos Manifestantes, por meio da qual demonstraram apoio aos protestos. Um apoio que poderia ser resumido em apenas uma frase: “Vocês nos representam”. Não faltaram também elogios. Os parlamentares afirmaram ainda: “Temos orgulho de nossos mandatos políticos e queremos colocá-los à disposição das justas demandas por transportes públicos eficientes, redução das tarifas, educação e saúde pública de qualidade, ética na política, transparência e prioridade social nos orçamentos públicos”.

Compromisso

E se faltam discursos de políticos nos protestos, eles lotaram a internet. Vários partidos postaram em seus sites oficiais manifestação de apoio aos protestos, apesar de as interpretações dos atos assumirem os tons das tendências políticas de cada agremiação. Em nota, o PPS – oposição ao governo petista – divulgou nota afirmando que os protestos “demonstram fundamentalmente uma insatisfação generalizada com a volta da inflação, com o mau uso dos recursos públicos, com a corrupção e com a precariedade das políticas públicas graças a um governo inepto e incompetente”. Por sua vez, o PSB – que continua na base de Dilma, mas ensaia um voo solo de olho na Presidência da República – destacou em sua página discurso do senador Rodrigo Rollemberg, que ocupou a tribuna para exaltar a mobilização popular e advertir ao governo: “Importante registrar que não devemos simplificar ou reduzir o significado dessas manifestações. Eu diria que todos nós – quem está no governo, quem é parlamentar, quem está na oposição –, se soubermos fazer a leitura correta dessas manifestações, certamente poderemos dar uma contribuição maior para que o país dê um salto qualitativo e ingresse numa nova era”, afirmou.

O grito das ruas acordou também o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que deixou de ser presença constante no microblog Twitter, desde a sua última candidatura. “Em todo o país, além dos pleitos locais específicos, há desesperança e saturação. Os jovens estão certos, é preciso mudar o Brasil”, escreveu Serra, que  não perdeu a oportunidade de cutucar o prefeito petista Fernando Haddad. “Aqui em São Paulo, promessas de campanha, como baratear tarifas e fazer o bilhete único mensal, mostraram-se verdadeiras farsas”. O vereador de Belo Horizonte Iran Barbosa (PMDB), que participou das manifestações, foi criticado também no microblog pela ousadia e teve que se defender: “Amigo, não vejo como aparecer em meio a 50 mil pessoas. Participo e apoio, sim, o movimento porque, como você, também sou cidadão”.

Representatividade perdida

Bertha Maakaroun

A exemplo do que ocorreu no Movimiento 15 M, em maio de 2011 na Espanha, onde jovens que ficaram conhecidos como los indignados tomaram praças e ruas do país para protestar contra o domínio dos bancos e corporações econômicas dentro do sistema democrático, no Brasil as manifestações não têm líderes, o que torna a negociação difícil, e denotam profunda insatisfação com as instituições, além de alto grau de desconfiança em relação aos partidos políticos. As críticas são duras em relação ao distanciamento das legendas da sociedade. Esses jovens não se sentem representados pelos partidos.

A avaliação é de Helcimara Telles, coordenadora do grupo de pesquisa de opinião pública do Departamento de Ciência Política da UFMG, que viveu os dois últimos anos na Espanha. “Com a expansão da escolarização nas democracias mais avançadas, há um desalinhamento do eleitor mais jovem e escolarizado com os partidos. Os partidos não conseguem mobilizar esses eleitores”, avalia a cientista política. “Se não há vínculos com partidos, que são os canais de representação, surgem então os movimentos espontâneos, dos sem-líderes, com pautas econômicas e sociais heterogêneas”, explica ela.

Do passe livre às reivindicações por mais saúde, mais educação, passando por valores que se chocam no seio do movimento: há a defesa do aborto, das relações homoafetivas e os grupos que combatem de maneira ferrenha essa pauta. A reboque, são incluídos temas aleatórios, como a PEC 37 – que coloca no Congresso Nacional em linha de confronto Ministério Público e delegados de polícia –, além da PEC 300, que trata de reajuste para policiais militares, civis e bombeiros, entre outros temas.

Na Espanha, o movimento fragmentou o sistema partidário, atingindo em cheio os dois principais partidos – o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), à esquerda, e à direita, o Partido Popular, sucessor da antiga Aliança Popular. “Novas forças surgiram, como o partido da Esquerda Unida e mesmo partidos mais nacionalistas”, afirma Helcimara. No Brasil, contudo, segundo ela, em alguma medida essa fragmentação partidária ocorre  desde as eleições do ano passado, com um grande crescimento dos chamados partidos nanicos. “Isso nos remete às eleições de 2010. O novo comportamento político no Brasil que aflora em 2010, para além dos partidos políticos, aponta o tripé ‘internautas, verdes e pentecostais’”, avalia a cientista política. Ou seja, a nova geração de internautas, que tem nas redes sociais um canal facilitador para a circulação de informações, agrega um contingente de eleitores com valores pós-modernos, como a defesa do meio ambiente, mas também um segmento considerável de eleitores com um código de valores religiosos. “O que há de comum com esse eleitor de pauta mais religiosa e pauta pós-moderna? O profundo descontentamento com os partidos tradicionais”, afirma Helcimara Telles.

 


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